CRÍTICA | Amor Sublime Amor renova o musical de um jeito que só Spielberg seria capaz

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Um dos maiores clássicos do mundo dos musicais ganhou uma nova e mais aprimorada versão comandada pelo brilhante Steven Spielberg e protagonizada pela dupla Ansel Elgort e Rachel Zegler. “Amor, Sublime Amor” consegue se tornar algo maior, mantendo a essência do clássico e se adequando a evolução de uma sociedade que foi muito problemática nos anos 60.

Em uma espécie de Romeu e Julieta da Broadway, o musical conta a história de amor e rivalidade juvenil que se passa na Nova Iorque de 1957.  Entre a disputa de território entre as gangues Jets, estadunidenses brancos, e os Sharks, descendentes e/ou porto-riquenhos, nasce um amor nada provável entre Maria (Zegler) dos Sharks e Tony (Elgort) dos Jets.

Antes de começar a crítica em si, devo deixar claro que “Amor, Sublime Amor” não é um musical para todo mundo. Caso você não goste de musicais, talvez essa não seja a melhor escolhe para dar inicio a sua lista de filmes do gênero. Tudo que envolve essa história é bastante teatralizado, e esse é o grande brilho dela. Danças monumentais, performances colossais, duelos em forma de coreografia e sentimentos cantados ao pé da letra. Essa é uma obra para os amantes de musicais, que contemplam todo esplendor que filmes assim podem exalar. E que definitivamente esta obra transmite.

Quando falamos de broadway e a teatralidade que musicais carregam consigo, fica claro que Spielberg soube explorar todas as ferramentas ao seu alcance. Desde da construção de figurinos e cenários, a performance das músicas, “Amor, Sublime Amor”  é uma experiência dos teatros fora dos palcos. O cineasta brinca com a iluminação e os ângulos das câmeras nos dando essa sensação, de estarmos na primeira fileira de um grande palco. 

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Ao mesmo tempo em que traz a tecnologia ao seu favor para nos proporcionar tal sentimento, o diretor também consegue honrar o passado. O filme consegue mesclar a sensação da qualidade que somente o século 21 poderia oferecer com a essência de um filme dos anos 50/60. Seja na trilha sonora entre a construção das cenas, ou na direção de fotografia, o longa consegue se ambientar com total fidelidade a época em que está situado.

Toda parte técnica se sobressai as atuações dos protagonistas. Zegler e Elgort decepcionam em construir a química de um casal que arde no fogo da paixão em um relacionamento proibido. Nenhuma das suas interações convencem, e, por consequência, não fazem a conclusão do filme se tornar algo realmente impactante emocionalmente. Ainda assim, Zegler merece o mérito de desempenhar gloriosamente as suas performances musicais, uma ótima cantora, mas com uma atuação medíocre. Enquanto Elgort não posso compartilhar da mesma opinião. Sua atuação nem beira a mediocridade, sua atuação é desproporcional a tudo que é proposto no longa. Anticlimática e vergonhosa, como seus momentos finais com Rita Moreno, o ator prova que versatilidade não é seu forte.

Vale deixar um espaço para exaltar as alterações que Spielberg e os roteiristas, Tony Kushner e Arthur Laurents, realizaram em relação ao clássico dos anos 60. Toda problemática com a falta de atores latinos (quando a história é sobre eles), além do blackface, é reparada nesse longa que respeita não só a etnia dos personagens da história, mas seu idioma também. O filme explora o espanhol com assiduidade, o que parece óbvio agora, já que estamos falando sobre Porto Riquenhos, no entanto foi algo omitido no clássico. 

Além do mais, Kushner preencheu lacunas que o clássico tinha, como a história do passado de Tony e do pensamento crítico que sua gangue não teve um passado bom ou oportunidades, conseguindo até humanizar um grupo que foi feito para ser odiado. No entanto, não carrega uma lógica de inserir detalhes e permitir a continuidade de uma narrativa que não faz sentido. Como o fácil perdão que Maria dá a Tony logo após uma descoberta chocante. Se não fazia sentido na época, hoje faz menos ainda.

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Um dos grandes destaques do filme com certeza é Ariana DeBose, que concorre ao Oscar desse ano na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Além de seu personagem ser o mais coeso, a atriz rouba a cena toda vez que nos agracia com sua presença. Principalmente em sua última cena do musical, em que é simulado uma violência. É claro que a cena ganha uma intensidade maior quando o grupo é interrompido por Rita Moreno, uma figura feminina pelo qual eles respeitam. No entanto, o sentimento claustrofóbico e aterrorizante é definitivamente mérito de DeBose, que soube desempenhar com maestria.

A respeito da trilha sonora, a produção realizou um belíssimo trabalho, principalmente na ordem das músicas e a permanência da crítica social dentro delas. Construindo uma narrativa fluída e até que divertida, o cineasta conseguiu dar mais intensidade as performances. Em especial na briga de gangues, que beirava a violência em performances dançadas. O ballet do filme é algo que beira a magia do cinema, compõem algo que não vemos com frequência e transformam o filme em uma experiência única.

Por mais que a história em si não funcione como um romance nos dias atuais, mais pelo seu teor do que a sua execução, a história carrega em sua trama discussões que são válidas até os dias atuais. O roteiro sabe muito bem dar o devido foco a xenofobia, desigualdade social e o todo fardo que o preconceito por imigrantes ocasiona aos que residem nos EUA até hoje em dia, seja em tom de humor nas músicas como no drama dos personagens.

Fica claro que “Amor, Sublime Amor” se enquadra na minoria de filmes que conseguem superar suas versões anteriores. Spielberg se reinventa sem ao menos mudar a história. Consegue tornar um clássico moderno à medida em que é fiel aos anos 50, época a qual o filme é ambientado. Carrega humor, drama e romance em dosagens perfeitamente equilibradas e nos presenteia ao fim com uma obra espetacular, digna de suas indicações ao Oscar de 2022.

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O filme está disponível no Disney+.

Nota: 4,1/5

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Autor do Post:

Ludmilla Maia

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26 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.

Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.

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