Banhado em uma nostalgia deliciosa, Red: Crescer é uma Fera traz como foco principal a transição da infância a adolescência, com o conflito familiar, a percepção de grandes mudanças e infinitas perguntas pertinentes a essa idade, o filme consegue solidificar essa nova era dentro da Pixar, se distanciando das narrativas inanimadas e se aproximando cada vez mais de histórias mais reais, como vimos em Soul e Luca.
É claro que a empresa ainda foca em transformar debates mais intensos em algo mais fantasioso, o que faz com que a história se torne atrativa ao público infantil. Ainda assim, sua mensagem é tão clara que aos mais velhos a compreensão é imediata, tal como a identificação. E é isso que acontece em Red.
Ambientado no começo dos anos 2000 o filme já ganha o espectador mais velho pela nostalgia, seja na moda, no comportamento ou até mesmo no vestimenta, o filme é uma máquina do tempo. A sensação é essa mesma, de retornar a idade semelhante a da protagonista, sentir que tem novamente 13 anos e sua única preocupação é ir ao show da sua banda favorita. O longa consegue explorar, sem tornar algo muito caricato, o lado fangirl da protagonista, é bem humorado, leve e amigável. Mesmo com os exageros nas ações, o filme não passa do ponto e nos convence do que é proposto em tela.
A história por de trás da história, aquela que só os mais velhos acabam pegando e atacando o emocional… é majestosa! Red: Crescer é uma Fera acaba realizando uma metáfora com a puberdade, e para as meninas a primeira menstruação, e como essa transição acaba gerando alguns efeitos direto em como você é vista pela família e como a sua família te vê. Como somos inseridos em uma família asiática tradicional, esse assunto acaba ganhando um tom mais severo. Os rituais podem ser lidos como uma forma de repreensão a liberdade individual, do que a criança que ser, como ela se identifica e, principalmente, quem ela realmente é.
Tudo isso fica claro quando vemos como a protagonista se comporta de modo diferente com sua família e com seus amigos. Ganhando mais confiança em um lugar que a abraça pelo que ela é, com ou sem um grande monstro vermelho, do que dentro de casa que é incentivada a aprisionar tal monstro. E ao mesmo tempo, o filme não deixa escapar a importância que a família tem nessa transição, que, quando sem norte a protagonista não dosa seu monstro e é levada pelas emoções. A conclusão satisfaz pois ela não ignora a importância da família, muito menos da liberdade, une o melhor dos dois mundos através de um diálogo comovente e o amor maternal.
Red: Crescer é uma Fera fica emocionante quando temos a constatação de que ninguém é realmente feliz dentro desse ciclo vicioso, repreendendo e machucando pela omissão. E logo que esse ciclo é quebrado, pela compaixão e compreensão, o filme fica mais real, mais palpável e, definitivamente, mais emocionante. A resolução dos conflitos propostos é dosada de forma bastante pertinente com o desenvolvimento da trama, incluindo demais personagens que somam com a história, ao fim ela entrega uma conclusão satisfatória e bem reflexiva.
Quando falamos sobre a composição visual do filme, com a nova técnica 3D da Pixar não resta nada a dizer além de UAU. É notório a evolução da empresa, não só na qualidade visual da animação como na liberdade criativa em ousar e brincar com expressões “extra” em momentos propícios. Flertando até mesmo com a cultura do anime e mangá, a animação eleva os padrões da Pixar e se destaca por ser ousado, corajoso e surpreendente por sair da mesmice e do esperado.
Red: Crescer é uma Fera é uma deliciosa experiência, seja para você que ainda não tenha passado pela puberdade, que ainda está passando, ou que já passou faz tempo… não importa o gênero. Dentro de suas peculiaridades o filme consegue gerar identificação com um público vasto, sem se prender a um determinado grupo de pessoas. E mesmo sendo tão amplo, o filme ainda carrega consiga uma representatividade forte e importante, nas telas e por trás delas, no elenco de dublagem e na direção do longa.
O filme está disponível no Disney+.
Nota: 5/5
Autor do Post:
Ludmilla Maia
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26 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.
Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.