Se o clássico slasher dos anos 90 sempre foi na verdade uma fábula moral sobre a condição humana, que subvertia uma lenda urbana popular nos estados unidos, a nova série do Amazon Prime Vídeo lançada em outubro inspirada na história não poderia ser muito diferente nesse quesito. No entanto aproveita os novos tempos para atualizar o conceito do clássico lançado há mais de duas décadas.
Assim como o original, a série mostra um grupo de jovens que, voltando para casa após uma festa de formatura envolvendo muita bebida e drogas, atropela uma pessoa na estrada e decide se livrar do corpo ao invés de chamar a polícia por medo das consequências. No entanto, eles incluem aqui um twist, ao colocar como vítima a irmã gêmea de uma das integrantes do grupo que tinham uma relação problemática, algo que poderia pesar um pouco mais no dilema moral da série. Mas acaba sendo só um adicional de drama novelesco para fazer com que a trama tenha mais o que falar durante os seus 8 episódios.
Um ano após os acontecimentos da fatídica noite, quando uma das jovens envolvidas no incidente volta para a cidade durante as férias de verão da faculdade, um misterioso assassino começa a eliminar os integrantes da turma, um por um. E é a partir desse momento em que as diferenças de personalidade entre os personagens do filme e da série começa a pesar um pouco na trama.
Se na versão original conseguimos sentir o medo não apenas pela construção da história, mas também por sentirmos apego e nos importarmos com os personagens, aqui isso fica em segundo plano. A série que deveria originalmente ser no mínimo assustadora, já que existe um assassino a solta buscando uma aparente vingança contra um grupo de adolescentes, não consegue emplacar e chega a ser cômica antes de atingir o objetivo.
O próprio grupo de amigos tem um desapego evidente uns com os outros que acaba afetando o telespectador. Se eles não sentem medo nem se preocupam com o bem estar dos próprios amigos, como podemos nos assustar com a iminente ameaça de um psicopata?
A série tem um problema de ritmo tão evidente que consegue parecer exaustiva mesmo em apenas 8 episódios. É como ver um filme muito longo que tem pouca história para contar. No entanto consegue entreter nas cenas de mortes que consegue amedrontar com uma armadilha aqui outra ali, dando um toque que o assassino em questão não é apenas vingativo e perigoso, mas sádico e brincalhão, algo que lembra outras franquias de terror como Jogos Mortais e Pânico.
A partir do momento em que o telespectador abraça o ridículo que a série evidencia, fica mais fácil gostar da trama e até se apegar a um personagem ou outro como Margot (Brianne Tju) e gostar do final totalmente imprevisível e até criativo. O que por si só já é, talvez, uma boa homenagem a clássica franquia.
Eu sei o que vocês fizeram no verão passado não é o slasher que esperávamos e nem tem a tensão assustadora do original, mas consegue entreter e entregar um conteúdo divertido e subversivo para o gênero dentro dos limites orçamentários que deram as mortes uma visão mais criativa e menos violenta. Desse modo, a série pode ser um bom passatempo que só decepciona se você esperar um suspense de qualidade.
Nota: 3,1/5
Autor do Post:
Yara Lima
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Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!