CRÍTICA | Em “Missa da Meia-Noite”, horror é sagrado

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Esta crítica não contém spoilers específicos, então fique tranquilo.

Na última sexta-feira (24), esteou na Netflix Missa da Meia-Noite, mais uma criação do Mike Flanagan (Maldição da Residência Hill e Maldição da Mansão Bly), uma minissérie de terror contada do jeitinho que só o Mike Flanagan sabe fazer, com discussões sobre a vida, morte, o universo e tudo o mais em apenas 7 episódios.

A premissa da série é bem simples: o padre de uma comunidade da pequena Ilha de Crockett já era idoso e ficou doente, então a comunidade resolveu dar uma viagem de presente para que ele conhecesse a Terra Santa. Acontece que quando o padre deveria voltar, um novo padre voltou em seu lugar e a partir disso, várias coisas estranhas e milagrosas começam a acontecer. Padre Paul (Hamish Linklater) é bem mais novo, comunicativo e cheio de mistérios.

A série é protagonizada por Riley Flynn (Zach Gilford), um jovem que nasceu na pequena ilha, foi criado sendo muito católico, até foi coroinha do antigo padre, e conseguiu sair e ser um empresário de sucesso, até que por conta do seu problema com álcool, ele causa um acidente e a jovem do outro carro morre. Ele é condenado e preso, e, quando sai, retorna para a casa dos pais na pequena comunidade. Sem dinheiro, sem expectativas, sem fé, com ficha criminal e sendo um alcoolista em recuperação, Riley tem aqui o papel de observador questionador e protagoniza belíssimos diálogos sobre o que é a vida e o que acontece depois dela, qual a nossa função aqui na Terra e o porquê de sermos quem somos. 

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Para aqueles que não são religiosos, os papos do Riley fazem muito mais sentido do que o fanatismo religioso e as pregações do padre Paul, apesar de que em certos pontos, o telespectador é pego concordando com as falas do padre.

Erin Greene (Kate Siegel) e Riley Flynn (Zach Gilford). Foto Reprodução:Missa da Meia-Noite,Netflix (2021).

Junto do Riley, temos sua namorada de infância, Erin Greene (Kate Siegel), a mocinha “problema” que fugiu da vila ainda muito jovem. Ela não era muito religiosa, viveu uma vida livre o quanto pôde e, pelo que ela disse ser um milagre, ela retornou para a vila, agora religiosa e grávida. Erin é aquela personagem mais profunda do que aparenta, feita para ser uma protagonista de história triste e que se é desgraça, é para acontecer com ela. E acontece mesmo. Ela e Riley protagonizam muitas conversas profundas sobre vida e morte e amor. O telespectador torce por eles e quer que eles fiquem juntos porque ambos merecem toda a felicidade e amor do mundo. A atuação dos dois é gostosa de ver, dá vontade de chorar.

Dado os três principais, agora vamos falar da vilã da história, Bev Keane (Samantha Sloyan). Bev é tudo o que há de mais odioso em um cristão fanático: cínica, hipócrita, usa passagens da bíblia para justificar seus preconceitos e maldades e para manipular qualquer um a qualquer preço para alcançar seus próprios objetivos. Ela é corrupta e provavelmente acredita nessa versão distorcida da “palavra de Deus” que ela inventou, pois é assim que ela consegue o que quer. Um verdadeiro show de atuação da Samantha Sloyan, não há um momento em que a personagem abriu a boca em que eu não quisesse dar uns bons socos nela. Quando ela usa a palavra de Deus para justificar a sua intolerância religiosa contra o Sheriff Hassan (Rahul Kohli), o único não cristão da ilha, dá vontade de vomitar. 

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Bev Keane (Samantha Sloyan). Foto Reprodução:Missa da Meia-Noite,Netflix (2021).

Mas afinal, o que é a Missa da Meia-Noite? É uma coisa surpreendente. Esperei horror tradicional, sair apavorada, assustada como fui em A Maldição da Residência Hill, mas não foi só isso. Claro, há o sobrenatural e ele é uma ferramenta para que o verdadeiro horror seja mostrado, mas o horror aqui são as pessoas e como um religião pode ser usada como uma ferramenta para algo totalmente maligno, quando distorcida para tão. Nada que não tenhamos visto na ficção ou na vida real antes. 

O roteiro da Missa da Meia-Noite foi feito de forma a que todas as histórias fossem bem contadas e que cada diálogo tivesse a profundidade necessária para nos fazer refletir sobre perdão, para lidarmos com vícios, com o luto, com a consequência das nossas escolhas. É bem amarrado de forma a encerrar muito bem a minissérie ao final do 7º episódio, sem deixar dúvidas do que aconteceu no final. E, apesar de um final triste, é um excelente final, que começa lá no 5º episódio. 

No fim, deixo aqui meus 7 minutos de aplausos para o Mike Flanagan, por ter sido corajoso de fazer uma série como essa da forma que ele fez. É, de longe, uma das melhores coisas que assisti esse ano. 

Assistam à Missa a Meia-Noite na Netflix. 

NOTA: 5/5

Autor do Post:

Jessica Rodrigues

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Darkzera do cerrado tocantinense, engenheira florestal, ilustradora botânica e médica de plantinhas; apaixonada por terror e romances boiolinhas, às vezes podcaster e, definitivamente, louca das plantas e dos gatos.

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