Atenção: este texto contém spoilers.
Estreou na última sexta-feira (17) a 3ª temporada de Sex Education (2019-presente), série teen mais adulta e pé no chão da Netflix, criada por Laurie Nunn. A cada temporada, novos dramas e assuntos foram inseridos na série, todos de forma tão orgânica, que deixam a série ainda mais gostosa de assistir o que nas temporadas anteriores. Nessa 3ª temporada, temos novos personagens e novos protagonismos. São vários grupos com histórias diferentes e em um momento os grupos se juntam para mais uma história, numa verdadeira montanha russa de emoções.
Na temporada anterior, terminamos com a escola Moordale aguardando um novo diretor, Otis (Asa Butterfield) e Maeve (Emma Mackey) apaixonados e ainda separados, Eric (Ncuti Gatwa) e Adam (Connor Swindells), Ola (Patricia Allison) e Lily (Tanya Reynolds) juntos, Aimee (Aimee Lou Wood) lidando com o abuso que sofreu no ônibus e a Dra. Jean Milburn (Gillian Anderson) grávida.
Nesta nova temporada, temos uma nova diretora, a Hope (Jemima Kirke), que é uma ex-aluna de Moordale e rapidamente ganha a confiança dos alunos da escola, mas que acaba se mostrando uma mulher extremamente preconceituosa e conservadora, que e diz feminista, mas não respeita seus alunos, sua opiniões e nem seus corpos. Isso leva a um ponto trazido nessa temporada, que é a violência institucionalizada nas escolas. Só quem já estudou em escola conservadora (militar/religiosa) sabe como essas violências diárias nos afetam. Em um breve passeio pelo Twitter, temos comparações dela com a Tempesta de The Boys (e nem está tão longe assim).
Hope (Jemima Kirke).Sex Education,Netflix, 2021.
Temos a maior surpresa da temporada, que chega logo no primeiro episódio e não, não é o Otis de bigodinho, é o relacionamento dele com a Ruby (Mimi Keene). Durante o verão, os dois se aproximaram e acabaram ficando todo esse tempo, até o relacionamento deles de tornar público. Na temporada passada, o Otis já havia perdido a virgindade com a Ruby e foi lá que tivemos conhecimento de que a Ruby enfrenta o fato do seu pai ter esclerose múltipla.
Com toda essa proximidade dos dois, conhecemos mais a fundo como a Ruby realmente é, seus medos e dores e o que aquela capa de patricinha nojentinha é só uma capa e que ela e a família vivem uma vida modesta com a mãe cortando um dobrado para manter a casa enquanto o seu pai já não consegue nem andar pelo estado avançado da sua doença. O Otis é a primeira pessoa da escola que ela leva em casa. Quando ela finalmente diz para o Otis que o ama, ele vacila e não retribui e manda um “legal”, já que ele é apaixonado pela Maeve. Vacilou e vacilou feio, Ruby cristalzinho não merecia sofrer assim por abrir seu coração.
Otis (Asa Butterfield), Ruby (Mimi Keene) e Olivia (Simone Ashley).Sex Education,Netflix, 2021.
Eric e Adam estão namorando abertamente. E SÃO MUITO FOFOS! É lindo ver a evolução do Adam, dele tentando entender e lidar com seus sentimentos, tentando entender o porquê dele ser tão agressivo e vemos que a raiz de tudo isso está em como o pai dele foi criado e reproduziu toda a violência com o filho.
Todo mundo cresceu muito nessa temporada, mas o Adam foi quem mais se desenvolveu. Os momentos dos dois são fofinhos, o Adam sozinho é muito fofinho tentando entender e lidar com seus sentimentos e a aproximação dele com o Rahim (Sami Outalbali) é inesperada, mas funciona muito bem. No final, quando o Eric vacila, ver o Adam sofrer doeu em mim. Ele merecia mais e, mesmo amando o Eric e ele sendo um dos meus personagens favoritos, eu o odiei quando ele fez isso.
Eric (Ncuti Gatwa) e Adam (Connor Swindells).Sex Education,Netflix, 2021.
Mais uma vez, a situação mais adulta dos adolescentes de Moordale é a da Maeve, considerando que ela só tem 17 anos, mora sozinha em um acampamento de trailers e tem que se virar para ser uma boa aluna, conseguir viver e ter uma mãe viciada em drogas que não a perdoa por tê-la denunciado para o juizado de menores, fazendo com que ela perdesse a guarda da filha mais nova. Seu núcleo nessa temporada trouxe mais do Isaac (George Robinson), o vizinho que fez o favor de apagar a mensagem de declaração do Otis para ela e isso fez com que todos o público quisesse que o Otis jogasse ele de um penhasco (kkkkkkkkk). Apesar dele ter feito uma coisa imperdoável, a temporada caminha de uma forma que até nos faz gostar do Isaac e de como ele está completamente apaixonado pela Maeve. Tão apaixonado que ele conta a verdade para ela.
Torcemos muito para que ela se entenda logo com o Otis e quando isso finalmente acontece, ela consegue uma oportunidade única de estudar fora do país e desiste para ficar com o Otis. Mais um drama que só foi resolvido graças à Aimee, em uma das melhores cenas da temporada:
Aimee: “Se eu fosse perder uma oportunidade por um garoto, o que você diria?” Maeve: “Pra você deixar de ser trouxa.”
(Lady Gaga estaria orgulhosa dessas duas).
Maeve (Emma Mackey) e Aimee (Aimee Lou Wood).Sex Education,Netflix, 2021.
Jackson (Kedar Williams-Stirling) conhece Cal, novo personagem não binário, interpretade por uma pessoa não binária, Dua Saleh. O relacionamento dos dois vai de uma amizade e muitos tropeços e desconstruções por parte do Jackon, até um possível romance entre eles, mas o Jackson ainda enxerga Cal como uma menina e Cal diz que ele não está pronto para entrar em um relacionamento LGBTQIA+. O que é verdade.
Cal trava muitas batalhas contra os abusos sofridos pela nova diretora. Hope não respeita ile e sequer faz questão de esconder, chegando a manter ile em cárcere privado em uma reunião da escola só porque Cal não se encaixa no padrão hetero normativo dos uniformes da escola.
Por fim, de todos os acontecimentos dessa temporada, o enredo mais importante a meu ver foi o da Aimee tentando lidar com o trauma do abuso que ela sofreu no ônibus. Ela finalmente vai à terapia com a Dra. Jean depois de muita insistência da Maeve e descobre que ela pode nunca mais ser a mesma. Todo o conflito e vê-la de lidar com o fofo do namorado dela me fez enxergar todas as situações de abusos que soremos todos os dias e como isso nos muda. É difícil reconhecer o que está errado e tentar resolver, tentar seguir em frente. Mais uma vez, aplaudo a Laurie Nunn por ter criado uma série tão única e sensível.
Steve (Chris Jenks) Aimee (Aimee Lou Wood).Sex Education,Netflix, 2021.
Tudo nessa temporada segue impecável, como nas temporadas anteriores: as histórias são amarradas, apesar de umas serem mais apagadas que outras, os figurinos são sensacionais, a trilha sonora encaixa em todo os momentos, a fotografia é toda linda e a ambientação também. As atuações, como sempre, são super competentes de todo o elenco.
Os pontos negativos são mais por personagens com dramas menos dramas do que os anteriormente citados: Jean e Jakob (Mikael Persbrandt) e seus conflitos sobre o bebê e o relacionamento, Ola tentando lidar com ter mais um irmão, morar com uma família nova e a saudade da mãe, Ola e Lily enfrentando problemas no relacionamento e coisas do tipo.
Falando em Lily, ela só foi relevante nessa temporada quando a Hope começa a pegar pesado nas suas punições com os alunos e isso a afeta de modo que ela até deixa de ir para a escola. Mais uma vez, a “educação conservadora” é usada para mascarar a desumanização das pessoas que são diferentes, como já citei anteriormente.
Hope humilhando o Adam, a Lily e Cal.Sex Education,Netflix, 2021.
Para concluir, ainda mantenho a minha consideração da minha crítica da 2ª temporada: Sex Education é a série que eu gostaria de ter assistido na minha adolescência nos anos 2000. É uma série que, apesar da comédia, trata os assuntos sérios como se deve tratar, é aberta, dialoga, é sincera. Não há uma pessoa para quem eu não recomende essa série, seguindo a classificação indicativa, claro.
Sex Education está disponível na Netlix.
NOTA: 5/5
Autor do Post:
Jessica Rodrigues
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Darkzera do cerrado tocantinense, engenheira florestal, ilustradora botânica e médica de plantinhas; apaixonada por terror e romances boiolinhas, às vezes podcaster e, definitivamente, louca das plantas e dos gatos.