CRÍTICA | “Pose” cria um legado dentro e fora da comunidade LGBTQIA+

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A série que já havia sido indicada ao Globo de Ouro desde 2019, finalmente foi indicada ao Emmy deste ano, desta vez em 8 categorias, sendo uma delas a de melhor série de drama e de melhor atriz de drama, para MJ Rodriguez, a primeira mulher trans a ser indicada na categoria na história da premiação.

Só por esta introdução nota-se o grande marco que foi a série dentro da crítica, e também pela sua recepção no Rotten Tomatoes que enfatiza o quão bem aceita foi. No entanto, Pose vai além disso, além de uma série bem escrita, com personagens reais, complexos e bem desenvolvidos… a série se destaca por criar um legado dentro das grandes produções televisivas, colocando em evidencia a comunidade LGBTQIA+, em toda sua glória e influência e também em toda sua dor e tragédia, para que jamais esquecemos daqueles que morreram para garantir os direitos essenciais presentes hoje em dia.

As três temporadas carregam três arcos e desenvolvimentos bastante visíveis. Na primeira, que serve como introdução ao mundo dos bailes, é a responsável por estabelecer o vínculo da audiência com os personagens, mostrando sua realidade no dia a dia e a importância dos bailes. Já na segunda, vemos o impacto da Madonna dentro da comunidade, como eles passaram a ser considerados mainstream, como isso os ajudou a alavancar a carreira de alguns, no entanto, também é a temporada mais dramática (não que sua antecessora não fosse), já que aqui vemos com mais intensidade a dor que a epidemia da Aids causou na vida de todos, na prática. É dolorosa, intensa… e infelizmente muito real. Já a terceira, ainda que dispensável (a história poderia ter sido encerrada na segunda com facilidade) é a mais emotiva das três, ela serve realmente como um encerramento de um ciclo, todos os episódios tem cara de episódio final. A trama explora cada personagem e seus desenvolvimentos e encerra com louvor cada enredo criado, desde da primeira temporada.

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A terceira temporada, a que está concorrendo ao Emmy deste ano, serviu como uma bela homenagem aos personagens e um agradecimento emotivo aos fãs que acompanharam a trajetória da série. Cada episódio foi responsável por focar em um determinado personagem, fechando cada ponta solta, cada curiosidade que ainda tínhamos e botando um ponto final em uma história que foi desenvolvida com maestria. Apesar disso, o final, que exala esperança e felicidade, nos deixa querendo mais dos personagens que são tão difíceis de se desapegar, e, principalmente, nos lamentando por aqueles que se foram.

O brilhantismo da narrativa e do roteiro em si se dá pela realidade que ele se banha, ainda que ele explore bastante a luta diária e árdua, a trama é complexa e procura explorar a todo momento diversas vertentes dos personagens, sendo impossível odiar 100% algum personagem. Não há somente tristeza e dor, há uma pluralidade de sentimentos, motivações claras, consequências, personalidades fortes em uma trama que não se deixa esfriar a nenhum momento, e é por isso que é tão difícil desapegar, porque a trama foge de todo estereótipo sofrido – que beira ao sadismo – sem sentido algum. Por mais que Pose tenha seus momentos tristes e dramáticos, ela não resume a comunidade LGBTQIA+ a isso. Eles são mais que a dor, por mais que eles tenham vindo dela, suas vidas são mais que um sentimento ruim. Há sonhos, metas, realizações, sacrifícios, esperança e felicidade em uma família que se encontrou na solidão.

Podemos dizer que a série também é extremamente política, simplesmente por existir e garantir seu espaço e sua voz. Porém, ela vai além disso. Durante as três temporadas é possível ver uma discussão bem aberta sobre a precariedade do sistema de saúde dos Estados Unidos, bem como o preconceito que anda de mãos dados com a ignorância que a população tinha acerca da doença. Além da Aids, que em si já é um grande pilar da série, Pose procura também explorar outras áreas das vidas dos personagens e suas dificuldades e vitórias, principalmente na vida profissional e pessoal. Criando um drama único e altamente identificável, uma representatividade que não é muito vista na televisão (ou em outra qualquer mídia).

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Não poderia deixar de encerrar essa (longa) crítica sem comentar, ainda que breve, sobre o figurino da série. Toda caracterização dos personagens é extremamente fiel à época pelo qual ele está inserido, mas o que se destaca mesmo são os figurinos dos “bailes”. A cada episódio a série consegue brilhar ainda mais, nas performances e na criatividade e talento em montar apresentações impecáveis, e também algumas hilárias, para nosso bel prazer. Além de apostar em cores vibrantes criando uma atmosfera única e condizente com a proposta de Pose.

Pose definitivamente merece todas as 8 indicações ao Emmy 2021. Em todo seu esplendor, a série conseguiu se tornar significante e relevante o suficiente para se tornar atemporal e impactante dentro e fora da comunidade, até porque a série também foi responsável pelo marco de ter feito a primeira mulher trans receber uma indicação a premiação.

As três temporadas da série estão disponíveis no STAR+.

Nota: 5/5

Autor do Post:

Ludmilla Maia

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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.

Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.

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