Se existe algo que, talvez, nunca envelhecerá serão os contos de fadas, que sempre ressurgem no cinema ou nos streamings em suas releituras, novas adaptações, tentando alcançar novos públicos e se manter fiel à época pelo qual ele está sendo promovido, ainda que tenha em sua história a monarquia como plano de fundo.
Lançado ontem (03) no Prime Video, “Cinderela” traz um grande elenco composto por Camila Cabello, Nicholas Galitzine, Pierce Brosnan, Idina Menzel e Billy Porter. Dirigido e roteirizado por Kay Cannon (conhecida pelos seus trabalhos em “A Escolha Perfeita“) o filme conta a história de Elle, uma órfã cujo sonho é ter sua própria linha de roupas, criada por ela, mas deve lidar com uma sociedade retrógrada e uma família que não fornece nenhum suporte. Por outro lado, temos o príncipe Robert, um rebelde que não tem interesse em herdar a coroa e só pensa em encontrar seu amor verdadeiro.
Após tantas versões de Cinderela chega ser difícil acreditar que ainda há alguma novidade para ser contada em uma história que já vimos tantas vezes. No entanto, o filme se apega nisso, se apega em ser diferente, em ser moderno, em ser inclusivo. Isso é perceptível no elenco, onde temos uma mulher latina como protagonista, um homem negro como o fado madrinho, e outras singelas inclusões, como mulheres negras na banda real ou princesas de diferentes etnias e características no baile real.
A fotografia do filme é realmente um show a parte, junto com o figurino. Ainda que a caracterização dos personagens parecesse confusa por alguns momentos, onde oscilava em roupa/acessórios de época e a moda moderna, tudo parece muito fantasioso, colorido e extravagante, como um conto de fadas deve ser, por muitas vezes lembrando até mesmo da população excêntrica da Capital em Jogos Vorazes.
Vale ressaltar que o roteiro tende a dar uma voz a personagens que não foram muito bem exploradas em outras adaptações, como por exemplo a própria madrasta da Cinderela e a mãe do príncipe. De uma forma ou outra, a narrativa tenta encaixar todas as histórias das mulheres em destaque do longa, entrelaçando em um enredo onde lidar com o amor ou com a busca de viver seu sonho pode ser uma caminhada árdua.
A história da princesa é realmente transformada de romance para a busca de um sonho, mesmo assim ainda tem como um dos grandes pilares a relação entre o príncipe a Cinderela, porém, agora, com o adendo a sub tramas que vão além do felizes para sempre.
No entanto, Cannon foi efetivamente eficaz apenas na construção de alguns personagens da trama, já que no quesito musical foi um completo desastre. A escolha do filme de apresentar, em sua grande maioria, músicas covers (como em “A Escolha Perfeita“) não foi de todo ruim, individualmente as músicas foram bem executadas e adequadas as personalidades dos personagens. Todavia como um todo gerou uma obra totalmente desconexa, em alguns mashups desastrosos e que não fazem jus ao que um musical realmente deve ser. A diretora não soube fazer com que as músicas se fundissem com a história, se tornando homogêneas e completando uma a outra, pelo ao contrário, parecia que Cannon não sabia o que estava fazendo e apenas apertou o aleatório em sua playlist.
As atuações do filme caminham de mãos dadas com o desastre musical, já que é tudo muito abaixo do que esperamos de um elenco de tamanho renome, por muitas vezes robótico e artificial. Apesar de Camila Cabello não ser uma atriz profissional e sim uma cantora, não é possível aceitar que uma artista não tenha nem a decência de se moldar a personagem. Não há uma Cinderela na história, há apenas Camila. A cantora não fez esforço algum para desenvolver sua personagem e deixou claro que sua função no filme era apenas cantar e ser carismática ao fazer uma palhaçadinha ou outra, característica de sua própria personalidade e não da personagem em si.
A história principal é muito confusa e deixa inúmeras pontas soltas. Enquanto há diversidade, minorias ocupando espaço onde normalmente não ocupam, como já mencionei anteriormente, a trama vende uma sociedade retrógrada e conservadora, ao ponto da protagonista ser caçoada por apenas querer vender um vestido. Ainda assim, a sociedade é totalmente moderna ao ponto de ter minoria em cargos em destaque na coroa, e uma mulher solteira na linhagem do trono. É como se o filme quisesse ser moderno, para agradar o público, e ao mesmo tempo se adequar a época em que ele é ambientado. Isso tudo resulta em uma enorme confusão que caçoa da capacidade mental do espectador que para ter um divertimento razoável deve desligar o cérebro.
“Cinderela” não funciona como um musical, nem como um filme sessão da tarde. Apesar de ter tipo performances individualmente muito bem feitas, não funciona como um todo. É triste desperdiçar um elenco tão promissor em uma história que parece implorar pela afeição do público em todos artifícios que inseriu no decorrer da narrativa.
Nota: 2,5/5
Autor do Post:
Ludmilla Maia
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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.
Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.