Talvez a sensação de encerrar uma série sentindo que ela poderia durar muito mais deixe um gosto amargo na boca, o que é bastante triste quando se trata de uma série que sempre construiu com tanto carinho seus caminhos. Mas mesmo com um final precoce, Atypical conseguiu amarrar suas pontas e encerrar sua jornada com o mesmo carinho e a mesma potência que trouxe em seus primeiros episódios.
A trama de Atypical nunca foi baseada em grandes acontecimentos ou situações muito dramáticas, tudo sempre foi pautado em pequenos acontecimentos de um todo, como se fossem pequenas crônicas detalhando o cotidiano de cada personagem. É um final que pode ser previsível, mas previsibilidade nunca foi um defeito em Atypical.
Se a terceira temporada encerrou com a conclusão de arcos antigos como a resolução do casamento de Elsa (Jennifer Jason Leigh) e Doug (Michael Rapaport) e a conclusão do relacionamento de Casey (Brigette Lundy-Paine) e Evan (Graham Rogers), a quarta temporada decidiu dar inicio a novas histórias que pudessem ser desenvolvidas e concluídas em seus episódios finais. Como as ramificações do arco de aceitação de Casey e o destino final do arco de independência de Sam (Keir Gilchrist), algo que pautou a série desde o primeiro episódio.
Depois de assumir sua bissexualidade Casey se vê tendo que lidar com um relacionamento mais complicado em meio a sua rotina pesada de treinos e atividades, ao mesmo tempo em que precisa se habituar a uma pessoa com uma vida conturbada como a de Izzie (Fivel Stewart), algo que a movimenta e a motiva a fazer o que o roteiro da série já vinha prevendo para ela “ser mais como ela quer e menos o que esperam dela” e isso funciona, inicialmente parece uma ruptura na personagem, mas logo depois fica claro que sempre foi uma questão de liberdade e auto conhecimento. Casey se mostra ainda maior e mais cheia de camadas nessa temporada, enfrentando seus medos e carregando o peso de suas atitudes.
Se a relação do Sam com pinguins sempre foi um ponto importante para a narrativa da série e nas formas de comunicação do personagem, aqui ela volta com força para trazer uma conclusão emocionante e digna de tudo o que significa Atypical. Ao se ver perdendo seu trabalho, com o fechamento da Techtropolis e já se sentindo independente ao morar sozinho com Zahid (Nik Donani), Sam enxerga na oportunidade de conhecer a Antártica a realização de seu maior sonho, conhecer os pinguins em seu habitat natural e lidar com todo o silencio e a independência que isso envolve. E assim algo que poderia ser simples se torna o maior acerto de contas graças ao roteiro de Robia Rashid que tenta solucionar o maior trauma do personagem, a ausência de seu pai!
O jantar de Sam e Paige (Jenna Boyd), que é também a despedida dos personagens, mostra o tamanho da evolução de ambos ao chegarem em uma conclusão de sua história ainda com todas as possibilidades abertas sobre o futuro. Paige, que sempre foi tão aberta e disposta a fazer tudo para o Sam, se vê nesse momento tendo que pensar em si e encarar a possibilidade de um mundo novo assim como ele, nesse momento ambos se veem exatamente no mesmo lugar e a forma em que Sam conduz a conversa e explica que mesmo distantes eles continuaram se amando é só mais uma prova do quanto o relacionamento, que começou todo atravessado nos primeiros episódios, amadureceu e cresceu junto com os personagens. É um encerramento digno, mas que aperta aquela tristeza do “e se tivesse só mais uma temporada?” mas infelizmente Atypical não tinha esse tempo.
Atypical encerra com o abraço em família, uma despedida com gosto suave por toda a jornada que acompanhamos nos últimos quatro anos, mas igualmente triste por todas as possibilidades que não teremos a chance de acompanhar. É nítido que a história poderia continuar por mais tempo e estaríamos aqui prontos para assistir mais temporadas acompanhando o desenvolvimento das novas histórias, das aventuras de Sam pela Antártica, de como Casey irá lidar com a volta a escola que sempre amou, como Evan se sairá como socorrista e se Izzie irá se acertar com a mãe. Mas dentro desse abraço ela encerrou e encerrou bem.
Em tempos de tanto cancelamento precoce e de tantas séries iguais com temporadas repetitivas, Atypical consegue encerrar sua jornada fiel ao que sempre foi.
Nota: 4,9/5
Autor do Post:
Yara Lima
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Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!