CRÍTICA | “Rua do Medo: 1666 – Parte 3”, encerra a trilogia com chave de ouro

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Atenção: este texto contém spoiler deste e dos outros 2 filmes dessa trilogia.

Na última sexta-feira (16), estreou o último filme da trilogia de terror da Netflix, Rua do Medo. Desta vez embarcando um pouco no folk horror (horror rural, subgênero do horror), Rua do Medo: 1666 – Parte 3, nos leva em uma viagem no tempo para contar a história de origem da terrível Sarah Fier, a bruxa que supostamente está por trás da maldição da cidade de Shadyside.

Já temos crítica aqui no site dos dois primeiros filmes, o Rua do Medo: 1994 e Rua do Medo: 1978

Confira a sinopse do filme: 

De volta a 1666, Deena descobre a verdade sobre Sarah Fier. Em 1994, os amigos lutam para sobreviver e pelo futuro de Shadyside.

No final de Rua do Medo: 1978, vemos que Deena (Kiana Madeira) consegue unir as partes do esqueleto de Sarah Fier e é transportada para 1666, no corpo da própria Sarah Fier.

Nessa viagem do tempo, vemos que muitos dos moradores da pequena vila onde Sarah vive com o pai e o irmão são interpretados por atores que aparecem nos filmes anteriores: Emily Rudd, Sadie Sink, McCabe Slye, Olivia Welch, Benjamin Flores Jr., Julia Rehwald e Fred Hechinger. Todos são moradores desse pequeno vilarejo, bem aos modos dos colonizadores do século XVII, muito parecido com o que acontece no filme A Bruxa (2015), do Robert Eggers.

Aliás, esse filme bebe muito da fonte de filmes como A Bruxa e As Bruxas de Salém (1996), de Nicholas Hytner. E, para mim, lembra muito a série Salem (2014-2017) também. Não vi nada de cópia nessas referências, pelo contrário, é tudo uma baita homenagem a esses filmes belíssimos.

Vila de Union (Shadyside e Sunnyvale) em 1666. Foto Reprodução:Rua do Medo: 1666 – Parte 3.Netflix, 2021.

Esse ambicioso projeto da Netflix, de lançar uma trilogia de filmes com uma semana de diferença entre as estreias, funcionou muito! Boa parte disso se deve à direção e roteiro da Leigh Janiak, que sabe muito bem como filmes de terror funcionam e soube usar muito bem os recursos que tinha para que esse projeto ficasse tão bom. 

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Outra coisa que eu gostei muito desse filme, foi a divisão em 2: metade em 1666, quando descobrimos o que realmente aconteceu com a Sarah Fier e o princípio da maldição e a outra metade de volta à 1994, com a Deena, Josh e a Ziggy correndo para quebrar o ciclo da maldição após a verdade finalmente ser revelada.

Apesar da pegada mais folk horror da primeira parte, a segunda parte retorna ao slasher e, mesmo amando mais o subgênero do folk horror, não acho que isso piorou o filme em momento algum. Toda a questão técnica é muito bem executada e amarradinha, já que esse é um projeto que foi pensado todo junto e rodado junto. Talvez seja por isso que a trilogia inteira funcionou tanto e ficou tão boa. Afinal, sabemos bem como é complicado fazer continuação de filmes de terror. Eu, particularmente, não consigo pensar nesse momento em nenhuma continuação de filme de terror que tenha ficado tão boa quanto. 

Todas as minhas considerações técnicas sobre esse filme são muito parecidas com as considerações dos dois primeiros. As atuações dos atores convencem, eles combinam muito em cena, conseguem nos fazer rir e temer por eles. Os monstros são incríveis, as cenas gore são muito boas, com enquadramentos bem bonitos das ações. É um ótimo filme de horror para quem quer começar a gostar do gênero.

A partir daqui teremos spoilers do enredo deste filme.

Quando Deena (Kiana Madeira) finalmente junta as partes de Sarah Fier lá no final da parte 2, ela é transportada para 1666 na pele da bruxa e vive os últimos momentos dela. É aí que vemos que Sarah era apenas uma moça que foi criada mais livre do que a maioria das moças do século XVII e que ela e os jovens da vila Union costumavam se encontrar na floresta nas noites de lua cheia para consumirem álcool e se divertirem na beira da fogueira, algo visto como imoral pelos costumes da época. 

Logo percebemos que não era só o jeito livre de Sarah que era um perigo para ela. Ela era apaixonada pela filha do pastor, Hannah Miller, interpretada por Olivia Scott Welch (que também faz a Sam em 1994). Esse relacionamento já seria o suficiente para que elas fossem condenadas à forca por bruxaria. 

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Sarah Fier (Kiana Madeira) e Hannah Miller (Olivia Scott Welch). Foto Reprodução:Rua do Medo: 1666 – Parte 3.Netflix, 2021.

Quando a praga se espalha por Union e uma tragédia acontece, logo pensam em bruxaria e, obviamente, a bruxa tinha que ser mulher, então por meio de falsos testemunhos, as acusações recaem sobre Sarah e Hannah. De acordo com o artigo da estudiosa em representação feminina no cinema de horror Gabriela Muller Larocca, isso se deve à tradição misógina ocidental que perpetuou por séculos a ideia de que a prática de magia das trevas estava conectada com a natureza feminina. Você pode encontrar o artigo com a discussão completa clicando aqui.

Essa falsa acusação deixou de lado a investigação do verdadeiro culpado, que era uma pessoa muito confiável da comunidade e que Sarah tinha como amigo: Solomon Goode (Ashley Zukerman, que também é Nick Goode em 1994). 

Sarah descobre tudo durante sua fuga para não ser enforcada como bruxa e se refugia em sua casa. Lá havia uma passagem para o subterrâneo, onde o pacto com o demônio criou a marca da bruxa. Solomon explica a Sarah que fez o que fez porque queria prosperidade e que uma vida, a do assassino, era um preço pequeno a se pagar. Mas Sarah, obviamente, não aceita a justificativa e nem a declaração de amor dele para ela, eles lutam, ele corta a mão dela e no final, ele mesmo a entrega para ser enforcada. 

No fim, Sarah confessa ser a bruxa para salvar Hannah e amaldiçoa Solomon, dizendo que a verdade seria sua maldição e que ela nunca descansaria, que nunca o abandonaria até que ele pagasse pelo que fez.

Sarah Fier (Kiana Madeira). Foto Reprodução:Rua do Medo: 1666 – Parte 3.Netflix, 2021.

A “maldição” era que todo mundo que sangrasse em alguma parte do esqueleto de Sarah, ela mostraria a verdade para que essa pessoa pudesse interromper o ciclo e os assassinos perseguiam essas pessoas para que a verdade nunca fosse revelada. Os assassinatos em massa continuaram acontecendo de tempos em tempos por causa do pacto de Solomon. Os Goode fizeram sacrifícios por mais de 300 anos, geração após geração, de pessoas da região que viria se tornar Shadyside, para que tudo em Sunnyvale prosperasse e os Goode continuassem sendo poderosos.

Em 1978, o jovem Nick Goode (Ted Sutherland) faz a sua oferenda com o nome de Thomas (McCabe Slye), mas ele se apaixona pela Ziggy (Saddie Sink) e acaba salvando a vida dela. Tem até um momento em que ele diz que “já deixou gente demais morrer”. Que filho da puta!

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Uma vez a verdade revelada, enfim Deena e os outros em 1994 armam um plano para matar Nick Goode (Ashley Zukerman) e enfim encerrar a maldição. Em vários momentos pensamos que vai dar tudo errado como deu no final da primeira parte de 1994, mas não dá. É sofrido, mas eles conseguem e Deena finalmente mata o Nick. 

Com a morte do último que fez a oferenda, tudo some: a marca da bruxa, a “máquina” de assassinos, os nomes nas pedras, tudo, e Nick Goode, o serial killer é responsabilizado pelas mortes mais recentes de Shadyside. 

Final melhor que esse, só o casal Deena e Sam ficando juntas no final. É sobre isso 🏳️‍🌈🏳️‍🌈🏳️‍🌈

Deena (Kiana Madeira) e Sam (Olivia Scott Welch). Foto Reprodução:Rua do Medo: 1666 – Parte 3.Netflix, 2021.

Para fechar essa crítica, é quase impossível avaliar cada um dos filmes de forma individual. Eles foram feitos para serem vistos e analisados juntos, mas de forma alguma isso é algo ruim. Poderia até ser uma minissérie com alguns episódios. Todos os três filmes são perfeitos para uma maratona, são divertidos e assustadores na medida certa, bem de acordo com a proposta desse projeto e com certeza vale a pena assistir. Foram melhor que muitos filmes de terror que têm saído nos últimos anos por aí. 

Resta saber se a Netflix vai fazer mais projetos como esse, já que os livros do R.L. Stine têm muito material para serem adaptados. 

Nota: 4,4/5

Espero que tenham gostado da crítica, deixem nos comentários os que vocês acharam dos filmes dessa trilogia!

Em breve teremos episódio do nosso podcast, o Tricast, discutindo sobre a trilogia de forma descontraída. Nos sigam nas plataformas de áudio para serem avisados sempre que sair um episódio novo! 

Autor do Post:

Jessica Rodrigues

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Darkzera do cerrado tocantinense, engenheira florestal, ilustradora botânica e médica de plantinhas; apaixonada por terror e romances boiolinhas, às vezes podcaster e, definitivamente, louca das plantas e dos gatos.

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