O mais novo lançamento da Amazon Prime Video veio testar um novo formato, ainda que bastante semelhante a Black Mirror.
Ao contrário das outras produções, “Solos” não tem uma grande diversidade de cenários ou elenco, porque cada episódio contém apenas um ator em uma espécie de monólogo durante quase 30 minutos. E se você levar em conta apenas essa descrição breve e superficial, talvez não se sinta tentado a assistir. No entanto, o formato funciona por causa da sua execução impecável.
É impossível não fazer comparações com Black Mirror, já que a série fez um molde tão popular que acaba servindo de parâmetro. Em “Solos“, a similaridade se limita ao fato de ambos serem uma antológica (cada episódio uma história diferente) e explorarem uma temática futurística – ainda que atual – para promover uma reflexão no público. Ainda assim, a série consegue se fazer original e deixar sua marca.
O primeiro episódio é um grande e espetacular começo. Estrelado por Anne Hathaway, a trama brinca com viagem no tempo, referência a cultura pop e indagações ao protagonismo feminino em produções com a mesma temática. O episódio consegue em 30 minutos criar uma história que gere empatia e conexão, constrói elementos surpreendentes e dramáticos e se encerra com louvor.
Hathaway consegue interpretar três versões de si mesma, em diferentes tempos, de forma magnífica. Com a ajuda do roteiro, a atriz consegue criar uma história digna de 1 temporada de 10 episódios em apenas 30 minutos.
Após um episódio tão bom, chega ser injusto com o próximo. No entanto, Anthony Mackie não decepciona. Seu desempenho em “Solos” pode ser considerado um dos melhores de sua carreira. Interagindo durante 30 minutos somente com uma outra versão sua, o ator interpreta dois papéis distintos (e similares) e traz um monólogo triste, impactante… em uma despedida dolorosa.
Mackie prova mais uma vez que seu desempenho vai além do que vemos em blockbusters e consegue se fazer mais presente em produções mais sérias e adultas.
O terceiro episódio tem uma ligação direta com o segundo, já que Helen Mirren vive Peg, a filha de Tom (Anthony Mackie), porém muitos anos no futuro. Agora ela já é uma senhora de 72 anos que está dando um passeio só de ida para o espaço.
Helen protagoniza um dos melhores monólogos e mais tristes da série, repleto de arrependimentos e “e se”, a sua vida foi vivida de forma temerosa e receios. Ao fim, consegue ser mais triste ainda, quando ela se dá conta de que todo aquele tempo passou e ela não tem mais para onde ir, literalmente. A sensação de solidão consome, o desespero é visível ainda que singelo, e Helen consegue construir uma personagem inesquecível através de uma atuação espetacular.
O quarto episódio conseguiu se tornar o mais decepcionante. Protagonizado por Uzo Aduba, ele tinha de tudo para ser um dos melhores, já que aborda um tema tão atual como a quarentena e é liderado por uma atriz excepcional.
Aqui vemos uma trama que aborda as consequências do isolamento e como o medo pode se instaurar e mudar nossa percepção. No entanto, ele é construído de uma forma confusa e cheia de incertezas, acredito que isso seja proposital para entendermos melhor a mente a protagonista, todavia isso faz com que realmente seja confuso, a sua mensagem não seja passada com a clareza suficiente e a conclusão seja insuficiente.
Uma das maiores surpresas (e o meu episódio favorito) veio no episódio cinco. Liderado pela atuação incrível de Constance Wu, a trama começa com uma mulher ansiosa e confusa esperando em uma sala vazia.
A sua história é desenrolada como um nó de lã, aos poucos a trama desdobra a sua personalidade até descobrir o motivo dela estar ali. É chocante, agonizante e brilhante. A surpresa te atinge como um raio e o enredo consegue te deixar tão imerso na história que é impossível não soltar umas lágrimas ao fim. Wu é minha aposta para o Globo de Ouro do ano que vem.
O sexto episódio é totalmente confuso e caótico. Nicole Beharie vive uma mãe solitária que realiza um tratamento para engravidar rápido, mas tudo acontece mais rápido do que imaginava. Perto deste episódio, o 4º consegue ser uma obra de arte.
A única parte dele que consegue fazer um mísero sentido é o final, mas já é tarde demais…porque é o final! Não há informações o suficiente para entendermos o que está acontecendo. As atuações não são das melhores, mas a trama acerta em apostar no suspense instaurado no desconhecido. Vale mencionar que este episódio é o que mais se distancia do formato criado por “Solos” já que há vários atores interagindo e há uma interação como vistas nas séries normalmente, e não os monólogos apresentados nesta produção.
E por fim, mas não menos importante, talvez o episódio mais aguardado por muitos é o episódio final, interpretado pro Morgan Freeman e Dan Steves, o único da série que tem dois protagonistas. Ele é bastante similar a um conceito já explorado em Black Mirror, o de memórias e como qualquer um pode ter acesso a elas. Porém, o que se desvencilha de Black Mirror é a aposta dramática de Freeman.
Um homem com um passado um tanto macabro encontra um homem que foi uma de suas vítimas. O episódio rende grandes atuações em um monólogo carregado de culpa e perdão. Freeman consegue entregar um desempenho excepcional, gradativo e que se se encaixa muito com o conceito das pessoas com alzheimer e demência.
“Solos” conseguiu superar todas as expectativas que tinha sobre ela, e apesar de alguns episódios mais fracos que os outros, surpreende, emociona e entrega atuações excelentes, se tornando uma ótima candidatada para uma das melhores séries do ano.
Nota: 4/5
Autor do Post:
Ludmilla Maia
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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.
Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.