RESENHA | “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” e uma coletânea de dores, cicatrizes e a busca pela felicidade

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Lançado em 2017 e escrito pela Taylor Jenkins Reid, “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” reúne uma coletânea de dores, perdas, cicatrizes, amores e paixões em uma Hollywood dos anos 50 até os dias atuais.

O livro, narrado em primeira pessoa, transita entre Monique, a jornalista, e Evelyn, a estrela do cinema da era de ouro. E a beleza única dele se dá graças à conexão que ele cria entre as duas mulheres de mundos diferentes. Com o passar da história de Evelyn, Monique se encontra, se identifica e adequa os momentos da sua vida atual aos ensinamentos recém aprendidos.

A respeito de Evelyn, não há adjetivos o suficiente para descrevê-la… de tão complexa! Ela é o tipo de protagonista que não nasceu para ser amável, mas vai conquistar você. Evelyn Hugo é capaz e perseverante quanto aos seus objetivos, mas não de um jeito admirável. A atriz trata seu corpo como uma mercadoria desde os 14 anos de idade, e se objetificou para conseguir fugir de uma realidade que a destruía lentamente.

A sua história é contada de forma que o desenvolvimento se torna interessante a todo momento, ainda que um plot twist pareça ter cessado o enredo surpreendente que poderia surgir. A narrativa surpreende, choca, emociona e é completamente viciante.

Ainda que o título do livro leve “Os Sete Maridos” antes do seu nome, não se engane, o livro não é sobre seus casamentos e muito menos sobre seus maridos. Essa é a história de uma sobrevivente em busca da felicidade genuína. Quando mais jovem, acreditava que a felicidade habitava dentro de um prato de comida diário, depois em uma ou duas mansões, joias e dinheiro, mas, ao fim, notou que aquilo não fazia sentido se não pudesse ter a pessoa com quem gostaria de compartilhar. Isso pode soar muito clichê, mas a forma como a autora narra esse desenvolvimento é o que faz com que a história se destaque e fuja do previsível.

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A cada casamento que Evelyn passava, um novo capítulo surgia, e é assim que o livro é dividido. Taylor escolheu dividir a história de Hugo no que mais marcou sua carreira para os tabloides, os escândalos de sua vida. E aqui há outro contraste significativo para a obra, quando as manchetes (demonstradas no livro) diziam algo, nós, leitores, descobríamos a verdade por trás daquilo. Um casamento de fachada, um casamento doentio, um casamento decepcionante e o encontro de almas gêmeas. Era como se ouvíssemos diversas estrelas que sofreram por causa dos tabloides contando sua versão dos fatos, com toda dor e podridão que habitava nelas.

Inclusive, neste livro Evelyn traz definições e significados distintos para palavras que poderiam ser semelhantes aos menos perspicaz. O que sempre é explorado é a diferença entre alma gêmea e o amor da sua vida. A princípio, os dois podem e geralmente são a mesma coisa, mas não para Evelyn. A história discorre de modo que você consiga entender porque Harry é sua alma gêmea e porque Célia é o amor de sua vida. E, por consequência, é visível notar a diferença quando vemos o impacto distinto que cada um conseguiu fazer na vida de Evelyn.

O livro, por mais que não pareça a todo momento ser uma história de época, te faz lembrar da era que está sendo ambientada pelos julgamentos e temores que rodeiam os personagens principais.

Explorar em Evelyn sua sexualidade talvez seja uma das melhores coisas do livro. Fazê-la uma mulher bissexual em uma época na qual isso não era abertamente discutindo é o que faz Evelyn ser tão identificável. Apesar de ser uma mulher estupidamente bonita, uma figura tão inalcançável para a sociedade, se assemelhando por diversas vezes a Marylin Monroe, Evelyn trava consigo mesmo uma batalha de achar suas prioridades e não se encontrar em rótulos pré-existentes na sociedade. Quando se é oferecido somente as opções: hétero ou sapatão, Evelyn não se encaixa em nenhuma delas. A única certeza que tem é de que o grande amor de sua vida foi uma mulher, mas isso não anulava que seu segundo casamento, com um homem, foi movido por amor e paixão.

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Com Evelyn, senti a sujeira de Hollywood, a felicidade de encontrar o verdadeiro amor e a dor de perdê-lo diversas vezes, a ganância, o gosto do sucesso e o gosto amargo que vinha junto com ele, bem como a solidão que Hollywood traz e todo preconceito que rodeia uma mulher latina e bissexual. Evelyn Hugo é uma mulher cheia de cicatrizes e perdas e, ainda assim, sempre permaneceu forte, como se nada pudesse abalar, mas, ao fim, o seu destino foi cruel e tirou tudo que amava.

Em suas 360 páginas, “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” faz com que o leitor não desgrude em nenhum momento os olhos das páginas. A escolha de retratar uma história dolorosa a partir dos olhos dela mesma, faz com que observemos aspectos mais íntimos e pessoais, tristes e dolorosos e, principalmente, sem remorso de sua trajetória. Como a própria Evelyn disse, ela não se arrepende de nada e, se tivesse que fazer, faria tudo novamente e até pior, se possível. Porque foram as suas atitudes que a levaram a encontrar as pessoas que amava.

Autor do Post:

Ludmilla Maia

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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.

Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.

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