CRÍTICA | Apesar de problemas e clichês, ‘Quem Matou Sara?’ intriga

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Com direito a uma frase de Ágatha Christie logo antes da primeira cena, a série mexicana ‘Quem Matou Sara?‘ inicia seu primeiro episódio tentando mostrar a que veio. A produção estreou no último dia 24 de Março no serviço de streaming Netflix e narra a busca por vingança do protagonista Alex Guzmán (Manolo Cardona), preso injustamente acusado de matar a própria irmã em um acidente.

Um dos principais pontos positivos da série é que ela constrói bem os personagens, que são interessantes e contam com atores que os sustentam muito bem. A trilha sonora funciona de acordo, criando sensações que condizem com as imagens em tela. A direção sabe criar cenas épocas e dirigir bem os atores. E ver o México em tons frios da fotografia é muito interessante, mesmo que não vejamos muitas imagens do país, já que praticamente todas as cenas acontecem em ambientes fechados.

Apesar destes méritos, algumas fórmulas e vícios de dramalhões mexicanos acabam por fazer a história se perder um pouco e algumas cenas acontecem sem muita lógica narrativa, como quando a família Lazcano se encontra na casa “de verão” do pai e os personagens vão aparecendo um por um completando a frase anterior dita por um outro personagem, quase como que numa peça teatral, sem sentido num audiovisual.

Outro elemento que prejudica a trama é a forma como a vingança de Alex é colocada em prática. Primeiro, ele avisa a todos que irá se vingar (isso parece a receita para uma tragédia!), mas só isso não basta: ele também deixa claro a todos que está vivendo normalmente em sua antiga casa, como se isto não o deixasse absolutamente vulnerável a qualquer tipo de futuro ataque (tanto que não faltam ataques e invasões à sua residência). É muito inconsistente e incomoda demais saber que o grande vilão pode matá-lo e ele simplesmente não liga. Pior: não parece sequer lógico dentro da construção de vilão de César (Ginés García Millán) que ele possa a qualquer momento matar Alex, mas decida não fazer isso. Fica mais do que óbvio que pelo comportamento do personagem, ele certamente já teria matado Alex há muito tempo para se livrar deste problema e desta futura vingança que certamente atingirá sua família.

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O plano de Alex é dos mais burros (nem parece um, na verdade) e uma pessoa misteriosa que o ajuda ao longo da temporada parece fazer mais pela vingança contra a família Lazcano que ele mesmo. Entre muitas brechas, colocar o plano de Alex em diversos momentos como dependente de uma ajuda da própria família parece muito amador e um insulto ao telespectador. Até ir à casa “de verão” dos Lazcano Alex vai, sem medo algum. E não acontece nada com o personagem. Nunca numa história se viu uma vingança cuja pessoa que está nesta busca se junta com a família que lhe causou tanto sofrimento. É uma família suicida.

Algumas das inconsistências criadas principalmente no primeiro episódio o próprio roteiro vai respondendo com flashbacks e alguns acontecimentos, a trama de certa forma flui. Alguns desses artifícios que parecem não fazer sentido à primeira vista servem para criar plots e fazer a história andar logo depois, mesmo que por vezes flerte com o absurdo.

Em meio a forçações, subtramas e o emaranhado dos personagens,  a série é muito competente em estabelecer um novo suspeito com motivos para o assassinato de Sara (Ximena Lamadrid) e progressivamente ao longo dos episódios constrói, mesmo com todo o melodrama desnecessário carregado em diversos momentos, diversas cenas que vão te deixar “mexido” e que fazem o suspense continuar funcionando.

As respostas dadas ao final da primeira temporada não são suficientes, deixando os fãs cheios de teorias, e uma segunda temporada já está a caminho. Apesar disto, quase todas as amarras, histórias e subtramas que foram jogadas ao longo dos episódios encontram uma resolução e muitas perguntas são bem respondidas. O plot final é o maior acerto por ser inesperado e ter fugido dos clichês estabelecidos ao longo de ‘Quem Matou Sara?‘, uma série repleta de problemas, mas que definitivamente intriga.

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Nota: 3/5

Autor do Post:

Paulo Rossi

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Um sonhador. Às vezes idealista, geralmente pessimista e sempre por aí metido num bocado de coisas. Apaixonado por audiovisual, cearense com baita orgulho e um questionador nato com vontade de gritar ao mundo tudo que acredita.

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