CRÍTICA | “Pieces of a Woman” e a vivência do luto

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“O triste resultado de um parto em casa deixa uma mulher emocionalmente destruída. Isolada do parceiro e da família, ela vive um profundo luto.”

Essa é a sinopse de Pieces of a Woman, filme de drama da Neftlix que estreou em setembro de 2020 no  77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, estreando no streaming em janeiro de 2021.

O longa foi dirigido por Kornél Mundruczó e roteirizado por Kata Wéber, estrelado por Vanessa Kirby (The Crown, 2016-2017) e Shia LaBeouf (Transformers, 2007). O filme também contou com Martin Scorsese (O Irlandês, 2019) como produtor executivo.

Assista ao trailer oficial:

 

No filme acompanhamos Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) após perderem sua filha no parto e como a vivência do luto afeta a vida deles conforme o tempo passa.

Logo no começo, temos um longo plano sequência que dura um pouco mais que 20 minutos, sem edições, pausas ou cortes, onde acompanhamos o parto que foi feito em casa com uma doula. Essa sequência é difícil de assistir, é muito intensa e a dor capturada com maestria pelo diretor chega a ser palpável. Se você passar por esse começo, com certeza vai conseguir assistir até o final.

Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) durante a cena do parto. Foto Reprodução:Netflix, 2021.

No resto do filme acompanhamos a Martha tentando lidar com o luto e tendo que lidar com o que as pessoas esperam que ela sinta por ter perdido a filha, como se houvesse uma maneira correta de vivenciar uma perda assim. Então tem a pressão do seu companheiro para que ela fale com ele e divida sua dor, a pressão da família que acredita que existe algum tipo de justiça a ser aplicada pela perda da bebê tentando incentivar um processo contra a doula e tem a pressão dela mesma sobre se sentir ou não culpada pela morte da própria filha.

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Não há uma receita de bolo sobre como deveria ser a vivência e superação do luto, cada um vive do jeito que consegue. E eu só consigo imaginar lá longe o pesadelo que é ser mãe e perder seu filho. 

Os diálogos são fechadinhos e muito bem escritos e interpretados, até os silêncios são perfeitos e com tempo certinho, como se o filme inteiro fosse uma grande coreografia de balé russo.

Parte disso, claro, é por conta das atuações, especialmente da Vanessa Kirby. A atuação dela é imersiva e muito sensível, e com a colaboração, da direção com os closes certos nas horas certas, com direito a um monólogo final tocante, ela acabou sendo indicada ao BAFTA, Critc’s Choice, Globo de Ouro, Screen Actors Guild e Oscar de Melhor Atriz. Ela é uma forte candidata à estatueta dourada este ano.

Vanessa Kirby durante o julgamento. Foto Reprodução:Netflix, 2021,

Todos os outros atores do círculo principal também têm seu momento de brilhar, especialmente Ellen Burstyn, que faz o papel da mãe da Martha. O diálogo dela sobre como ela foi um bebê sobrevivente e como um médico chegou a aconselhar sua mãe a abandoná-la para morrer durante o holocausto é triste de assistir, pesado.

Só que toda a fotografia perfeita, as capturas dos momentos de ansiedade e os enquadramentos sentimentais incríveis não atenuam que o final do filme foi desnecessário. Não desnecessário de um jeito que não faria falta e sim de um jeito que chega a quase estragar a narrativa do filme ao tentar dar um final feliz como se aquilo fosse um conto de fadas e que todo mundo sempre vai ter um final feliz.

O filme poderia ter acabado no final do monólogo de perdão da Martha no julgamento. A cena final num futuro onde ela teve outra filha, como se isso fosse apagar a dor dela de ter perdido a primeira. Pode não ter sido isso o que aconteceu, mas a sensação ao assistir foi essa.

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Não é como se o final tivesse estragado o filme por inteiro, o conjunto da obra é forte o suficiente para fazer deste um bom filme e merecedor das premiações que recebeu, como também justificam as críticas, as boas e as duras.

No final, Pieces of a Woman é um filme difícil de assistir pelas cenas intensas, o sofrimento palpável e o constante lembrete de que um bebê morreu, mesmo que você já comece assistindo ao filme sabendo o que vai acontecer, tá na sinopse. Portanto, caso você não esteja bem ou o assunto seja algum tipo de gatilho para você, não é um filme que eu recomende.  O filme está disponível no catálogo da Netflix.

NOTA: 4,1/5

Nota da autora: Sempre senti tudo profundamente, querendo ou não. E com a arte não é diferente, ela me atinge como se pudesse me tocar, abrindo meus olhos e me fazendo enxergar o sentimento por trás da obra. Me senti assim com esse filme, senti como se a história pudesse me tocar mesmo sendo longe da minha realidade, em partes. Todo mundo já perdeu ou vai perder alguém que ama e só a imaginação dessa certeza gera um certo pânico. Mas é inevitável que um dia aconteça, o luto é a consequência de se amar alguém.

Eu insisti muito para ficar com esse filme quando distribuímos os títulos na reunião mensal da equipe de redação. Não li nada sobre ele, nem cartaz, escolhi única e exclusivamente pelo título. Imaginar que uma pessoa está aos pedaços e que tem um filme sobre isso, me fez querer assistir. Não pelo sofrimento da outra, longe disso, mas por também estar aos pedaços. Acho que todos estamos, de uma forma ou de outra.

Autor do Post:

Jessica Rodrigues

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Darkzera do cerrado tocantinense, engenheira florestal, ilustradora botânica e médica de plantinhas; apaixonada por terror e romances boiolinhas, às vezes podcaster e, definitivamente, louca das plantas e dos gatos.

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