Ele conseguiu mais uma vez. “Ele”, no caso, é David Fincher. Gosto do trabalho dele basicamente desde os anos 1990, quando ele lançou “Seven – Os Sete Crimes Capitais”. Agora, com “Mank”, eu basicamente posso renovar minha carteirinha de admirador do seu trabalho, pois ele vai brigar por algumas/muitas estatuetas com certeza.
Não à toa, “Mank” foi o filme com maior número de indicações para o Oscar deste ano. Nada menos do que 10 indicações colocam o filme da Netflix na seleta lista. Entre algumas das indicações, “Mank” concorre como Melhor Filme, Melhor Direção (David Fincher), Melhor Ator (Gary Oldman) e Melhor Atriz Coadjuvante (Amanda Seyfried).
E acredito, pelo menos em grande parte, que a indicação para um prêmio de Melhor Filme é quando a produção soma diferentes bons elementos, desde roteiros até atores, além das partes técnicas. Obviamente que o Oscar e Hollywood também “puxam sardinha” para filmes estadunidenses, principalmente os que se dedicam à história do cinema. Mas isso é assunto para outra pauta. Até porque, “Mank” realmente merece estar entre as indicações.
A produção conseguiu – claro que com tons de ficção – falar um pouco mais dos bastidores da criação de um dos maiores e mais importantes filmes de todos os tempos: “Cidadão Kane”. Isso porque “Mank” narra a história – pré e durante criação do roteiro de “Cidadão Kane” – do roteirista Herman J. Mankiewicz.
A história de Mank, como o roteirista era mais conhecido, começa a ser narrada, de forma não linear, salvo engano, em 1930. O principal da história, o período de criação do roteiro, acontece nos anos 1940 – ou final dos anos 1930, eu sou realmente ruim com datas -, mas, linearmente falando, os primeiros acontecimentos datam do início dos anos 1930.
É neste período que Mank vai tendo contato com alguns dos principais personagens que seriam retratados em “Cidadão Kane”. E isto, para mim, que sou apenas um apaixonado pelo cinema, já foi um prato cheio. Agora, imagine para historiadores ou apaixonados pela história dos estúdios cinematográficos. Deve ter sido inebriante.
Para mim, alguns dos pontos fortes do filme:
- A forma como o filme foi filmado. Apesar de ser do ano passado, “Mank”, como filme, utiliza técnicas para remeter a uma produção antiga, desde a acústica do som até os elementos de filmagem – o que não se restringe à escolha por filmar em preto e branco. A produção emula, até mesmo, as falhas ocorridas nos rolos de filmes (após escrever isso, veio a dúvida: será que emulou? Ou foi filmado em rolo de filme antigo? Fica aí para quem quiser pesquisar);
- A atuação de Gary Oldman. E isso não traz nenhuma novidade. O ator, envolvido em algumas polêmicas – desde a defesa de posicionamentos homofóbicos e antissemitas de companheiros de trabalho até acusação de agressão à ex-esposa – ao longo da carreira, tem bons trabalhos reconhecidos e premiados. O público da cultura pop vai relembrar dele no papel de Sirius Black, nos filmes de Harry Potter;
- A direção, e aqui eu não me restrinjo a falar somente sobre como o filme foi filmado. Fincher se posicionou muito próximo à produção, o que não é nenhuma novidade. Porém, talvez pelo roteiro ser assinado pelo seu já falecido pai, o diretor pareceu tratar o filme com ainda mais carinho e cuidado. E isto precisa ser reconhecido. (Pretendo ver os outros filmes do Oscar, porém já me posiciono completamente como #TeamFincher para a premiação);
- O desenvolvimento do roteiro também foi genial. Não sou particularmente fã de narrativas não lineares. Porém, não posso admitir que funcionou perfeitamente em “Mank”. Foi necessário entender como o roteirista Mank chegou até aquela posição na qual ele é retratado ao longo da produção;
- No entanto, o que mais me prendeu ao filme, o que dominou completamente a minha atenção, foi a agilidade dos diálogos. É envolvente a forma como as conversas acontecem, é divertido. A língua afiada do roteirista Mank e os seus posicionamentos controversos frente a poderosos da indústria criam o clima perfeito para manter o espectador entretido do início ao fim.
“Mank” também, é claro, mostra um pouquinho do envolvimento e influência do cinema e de pessoas que trabalhavam na indústria cinematográfica com a política estadunidense. Como um ponto muito positivo, também demonstra um pouco das consequências que certos envolvimentos podem trazer para a vida pessoal das pessoas.
Um ponto positivo particular, foi o filme ter retratado, mesmo que rapidamente, o imediato pós período da Lei Seca nos Estados Unidos. A forma como algumas pessoas/lugares/estabelecimentos ainda tinham certas restrições ao consumo de álcool, em paralelo a um personagem alcoólatra, foi bem bacana.
Por se tratar de um fato histórico – mesmo com elementos ficcionais e discutíveis -, acredito que “Mank” será ainda mais prazeroso para quem conhece ou tem curiosidade sobre os anos 1930/1940 do cinema.
Para finalizar, um conselho: assistam “Mank”, mesmo se não tiver conhecimento sobre o período no qual o filme se passa. Vale a pena. Eu admito que eu não teria assistido se não fosse para produzir este texto. Me coloquei em frente à televisão com os dois pés atrás e fui completamente surpreendido. Pode ter ocorrido por estar com expectativas baixas para a produção (preto e branco, anos 1930, costumes ultrapassados), mas realmente é um filme que sou grato por ter podido assistir. Porém, poderia ser um pouquinho menor.
Sinopse:
A Hollywood da década de 1930 é vista através do olhar crítico de Herman J. Mankiewicz, um roteirista que sofre com o alcoolismo enquanto corre para terminar o roteiro de Cidadão Kane para Orson Welles.
Trailer:
NOTA: 4,8/5
Autor do Post:
Henrique Schmidt
editor
O louco dos livros, filmes, séries e animes. Talvez geek, talvez nerd, talvez preguiçoso, mas com certeza jornalista