CRÍTICA | As faces reais da adolescência em The Wilds

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Lost?! Temos visita!! A (não tão mais) nova produção da Amazon Prime Video lançada dia 11 de dezembro no streaming azulzinho parece ser uma cópia mais barata da produção de J. J. Abrams misturada com uma pesada pitada de reality shows do Discovery. Entretanto, essa história criada, encabeçada, dirigida e produzida (e mais todos os verbos no particípio que você conseguir imaginar) por Sarah Streicher, carrega uma identidade singular, teen e feminista. E, graças a Deus, é um drama adolescente muito melhor que a maioria das produções (de gosto bem duvidoso) lançadas a torto e a direito em outras plataformas sedentas por grana.

A história segue um trágico incidente na vida de 9 adolescentes. Enquanto se dirigiam para um retiro terapêutico feminino no Havaí num jatinho particular (CALMA!! NEM TODAS SÃO PATRICINHAS IRRITANTES!!!), o avião delas sofre uma avaria e cai perto de uma ilha no Oceano Pacífico. Presas lá, as jovens terão de se adaptar à nova realidade e tentar sobreviver ao que parece não ter sido um evento tão aleatório e descontrolado assim.

É, parece ser só mais uma série genérica sobre pessoas presas numa ilha esperando pelo resgate. Mas eu garanto a presença de uma identidade própria! Apesar de a produção seguir o modelo de narrativa de A Maldição da Residência Hill, contando a história de cada personagem em um episódio dedicado a cada uma delas (semelhante à de Lost), a decisão audaciosa de Sarah Streicher dá um aspecto duplo e inverso à narrativa, revelando o mistério da ilha logo no primeiro episódio.

Entretanto, a autora consegue extrair plot twists (as famigeradas “revelações bombásticas”) de detalhes mais simples da série, o que demonstra uma criatividade bem interessante. Disto isto, afirmo com louvor: cada episódio eleva a qualidade do show e instiga a mente do telespectador, ao mesmo tempo que conta diversos momentos da vida das personagens em um único capítulo.

Esse “malabarismo narrativo” é bem complicado de se fazer e exige um cuidado tão minucioso quanto o visto em Sense8, por exemplo. Sarah, você é uma excelente contadora de histórias! E claro que a bonita estava envolvida na série do Demolidor para a Netflix… então já dava para imaginar que vinha coisa boa por aí.

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Tão importante quanto saber contar uma história é ter uma história interessante para contar. E não bastasse ser apenas uma: a escritora criou 10 histórias principais com um elemento em comum, o qual seria um spoiler se eu o revelasse. Todas as pequenas narrativas pessoais das personagens são bem realistas e carregam consigo marcas únicas. O cuidado da autora é elogiável: criou 9 adolescentes interessantes com problemas e angústias instigantes e facilmente identificáveis com o público. Resultado? Receita ideal para criar ligações com pelo menos uma das 9 personagens.

E eu preciso elogiar a excelente distribuição do tempo em tela para cada integrante do grupo. O “malabarismo narrativo” de Streicher fornece um dinamismo que não cansa, mas renova nossa curiosidade com as personagens. E a acertada decisão de revelar o principal mistério da ilha no começo da série transforma a produção num gigante estudo de diversas personalidades, o que é visto, basicamente, somente em filmes considerados cults pela cultura pop. E eu tô embasbacado com o fato de terem conseguido isso sem apelar para um show +18 e de forma tão acessível para o grande público.

Entretanto, como todo bom show adolescente, há algumas discrepâncias com a realidade. Aliás, o realismo aqui foi utilizado como limite para que a suspensão da descrença não fosse desafiada na cabeça de quem assiste. Mas mesmo assim, vez ou outra o roteiro fornece soluções simples ou estrategicamente colocadas ali para facilitar a vida das personagens e fazer a história progredir. Todavia, diante da natureza teen da série, acaba sendo um fato já esperado e até perdoado, visto que a história não força a barra tanto assim.

Mas um clichê do qual não conseguiram escapar foi o das adolescentes maduras, inteligentes e “proativas” demais, eu diria. Todos nós somos ou fomos adolescentes, e todos sabemos como adolescentes pensam, agem e vivem em sociedade. A infantilidade faz parte da adolescência, mas é freada por um leve senso de maturidade adquirido com o ganho de experiências. Do mesmo jeito, a maturidade vez ou outra dá lugar à infantilidade, e os dois lados da moeda permanecem em constante desentendimento; o que evidencia a falta de aptidão para formar uma sociedade mais ou menos organizada como a série quer que acreditemos que elas são capazes de formar.

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Dessa forma, a narrativa expõe adolescentes que agem como adultos precoces na questão da organização criada na micro-sociedade daquela ilha. Porém, isso acaba por não incomodar o bastante para abalar nossa imersão, pois o roteiro estrategicamente coloca desentendimentos “quase” infantis para contrabalancear pensamentos tão adultos em meninas de apenas 16 anos. Os adolescentes não são tão poéticos e superdotados como nos livros de John Green, por mais que acreditássemos que fôssemos na nossa vez.

Cena de arrancar o coração, mas decidiram arrancar foi outra coisa…

Por fim, dá para resumir a série como uma mistura agradável e improvável de Euphoria e Lost, só que beeeeem mais leve. Felizmente, a Amazon economizou nas cenas “quentes” aqui, então pode assistir ao show com seus pais na sala. Além do mais, o mistério é realmente intrigante e as relações criadas ali instigam o telespectador a continuar olhando para a tela. Em mais de um momento, eu também senti estar assistindo a algo vagamente parecido com Largados e Pelados. The Wilds é um estudo de personalidades e problemáticas sociais muito bem executado, excelente para criar ações e discussões em salas de aula do ensino médio à graduação. E ainda é cheia de paisagens belíssimas e uma trilha sonora jovial.

A série possui a não tão rara habilidade de acabar em segundos! E sabe Deus quando a próxima temporada chega. Pelo menos ela já foi renovada para um segundo ano.

Nota: 4,6/5

E aí? Qual das garotas vocês são? Eu definitivamente sou uma mistura da Fatin e Dot. Talvez (só talvez) meu ascendente seja na Nora.

Autor do Post:

Matã Marcílio

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Um pré-fisioterapeuta nordestino que, perdido no mar das incertezas, fez das palavras seu refúgio. Um pouquinho mais de duas décadas de leitura e sedentarismo causado pelo prazer de deitar em frente a um espelho negro e observar toda a glória do homo sapiens ao escapar da realidade terrivelmente entediante. “Jojo Betzler. Hoje, só faça o que puder.”

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    Tribernna