CRÍTICA | “Sweet Home”, o apocalipse, a podridão e o companheirismo humano

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Meu primeiro dorama e, consequentemente, minha primeira resenha sobre um dorama. Assim eu vou começar definindo “Sweet Home”, da Netflix. E eu admito que dificilmente eu poderia começar por uma escolha melhor. Apesar do início mais lento, afinal precisava-se criar uma narrativa, a série me conquistou desde o primeiro episódio – apenas me irritou no último, pois eu pensei que finalizava, mas claramente a história vai prosseguir em uma possível segunda temporada.

Obs inicial: eu juro que eu vou tentar dar o mínimo de spoilers possível. Porém, eu não prometo nada. Mas, se quiser ler depois de assistir, vou fazer um brevíssimo resumo para você: é quase que uma mistura do anime/mangá Tokyo Ghoul com a série The Walking Dead e o personagem Venom. A sinopse e o trailer da série estão no final deste texto.

Como não sei por qual parte começar, iniciarei rapidamente falando da parte técnica da obra. “Sweet Home”, que é inspirada em um manhwa, é dirigida por Lee Eung-Bok, que tem em seu histórico outros doramas de sucesso, como “Descendants of the Sun” e “Goblin: The Lonely And Great God”.

A partir da acertada escolha pelo diretor, ocorrem diferentes grandes acertos. O maior deles, para mim, foi o casamento perfeito da trilha sonora com as situações que ocorriam no decorrer dos episódios. “Sweet Home” é uma das poucas séries que acabou e eu corri para a internet para dar uma olhada na trilha sonora. Normalmente eu não me importo.

O elenco também é grandioso. Quase impossível apontar uma atuação ruim, tanto dos protagonistas quanto dos coadjuvantes. É claro, o drama parece a especialidade, dos atores e da direção dos episódios, mas as cenas de ação também não deixam a desejar em nada.

A fotografia e os efeitos visuais também convencem. É claro que a aparição conjunta de pessoas e alguns tipos de monstros, em alguns momentos, soam como trash. Mas não causa nenhum incômodo visual e, nem mesmo, a comicidade dos filmes trash. Simplesmente funciona.

A série é basicamente inteira ambientada em um complexo de apartamentos chamado Casa Verde e tem início com a mudança do protagonista, Cha Hyun-su, interpretado por Song Kang, para o local. A partir de então, começa uma espécie de apocalipse de monstros, que ninguém sabe o porquê está acontecendo, e os moradores do prédio se trancam para tentar sobreviver.

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Um dos principais sintomas antes da transformação de humanos em monstros – fisicamente falando – é o sangramento nasal. Logo, a partir desse momento, a tendência é que as pessoas fiquem mais receosas. Afinal, nunca se sabe quando a transformação será completamente alcançada.

Em uma situação tão atípica, os vizinhos são obrigados a conviver, inclusive com pessoas que até então desconheciam. Isso é ótimo em alguns casos e terríveis em outros, obviamente. Uma convivência que eu gostei absurdamente foi entre o cristão Jung Jae-heon, interpretado por Kim Nam-hee, e a “rebelde” Yoon Ji-soo, interpretada pela atriz Park Gyu-young. É simplesmente interessante ver a evolução da relação entre os dois, que se conheceram na porta de um elevador, não se aproximaram, e depois viraram excelentes companheiros que se entendiam perfeitamente.

Durante a convivência, interna ou externamente aos personagens, assuntos mais delicados são tratados, como depressão, dificuldades familiares, bullying, entre outras questões que vão sendo tratadas ao longo dos dez episódios que compõem a temporada. O interessante no tratamento dessas dificuldades é como cada uma das pessoas age em razão disso.

Um exemplo disso são as dificuldades pessoais de Cha Hyun-su. Há uma diferença clara de tratamento em relação ao personagem entre cada um dos outros integrantes. Uma que me chamou bastante a atenção, por se tratar quase do mesmo problema – isolamento social -, foi da Lee Eun-yoo, interpretada pela atriz Go Min-si, e do Ahn Gil-seob, interpretado por Kim Kap-soo. Enquanto Eun-yoo parte para o lado mais fofo, porém engraçado, Gil-seob é mais duro e engraçado. No fim, todo mundo é engraçado.

Acredito que esse seja um outro ponto forte de “Sweet Home”: a mesclagem de acontecimentos. Em um mesmo episódio há situações aterrorizantes, engraçadas, estratégicas, com alto teor de suspense, “bonitinhas” e tensas. E o salto entre essas situações ocorre de uma forma tão natural, na medida do possível, que não causa desconforto nos espectadores.

Há também a forma como o “medo do desconhecido” é representado. Como humanos que enfrentam uma nova situação, e precisam se adaptar a todos os novos acontecimentos, é interessante ver como este “medo”, este “desconhecimento” de toda a situação impacta nas atitudes e nos posicionamentos dos personagens. Inclusive, este “medo do desconhecido” traz, para mim, uma das cenas mais tristes de toda a primeira temporada, que acontece no último ou penúltimo episódio. Como esse “medo” impacta na possível comunicação entre um monstro e a humanidade.

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Eu escrevi essa resenha até aqui pensando no que eu escreveria a seguir. Isso porque, tratando-se de apocalipse, e como citei The Walking Dead e Tokyo Ghoul anteriormente, além de estar no título, é claro que a podridão, o egoísmo, humano também é um dos protagonistas. Seja na hora de usar as pessoas, por mais que seja em busca de um bem maior, ou simplesmente por se aproveitar de uma situação de caos para criar mais caos.

Porém, visto que estamos passando por um momento tão atípico desde 2020, eu prefiro olhar por uma perspectiva positiva e focar no companheirismo e no lado positivo da humanidade. A mesma raça que causa mal em “Sweet Home” também causa o bem. Do mesmo jeito que pessoas agiram da pior forma possível, outras agiram da melhor forma imaginável para as situações.

Falando nisso, venho aqui passar pano para as atitudes adotadas por Lee Eun-hyuk, interpretado pelo ator Lee Do-hyun, e me explico: assumiu o papel de liderança, para o bem e para o mal. Não se omitiu. Agiu mal em algumas situações, na minha concepção, sim. Porém, soube conduzir o grupo de sobreviventes da melhor forma possível, reduzindo efeitos colaterais, até mesmo em situações extremam. Quis xingá-lo até a 13ª geração quando colocou a Seo Yi-kyeong, interpretada pela Lee Si-young, em perigo? Sim. Mas o pensamento dele, por mais que tenha agido em prol do “bem maior” (eu odeio o “bem maior”, inclusive), foi coerente com suas atitudes.

Aproveitando a deixa, falemos de uma das melhores personagens: Seo Yi-kyeong, uma ex-bombeira especialista em artes marciais. Sabem a Mulher-Maravilha? Aquela personagem interpretada pela Gal Galdot no cinema? Ela tem uma concorrente à altura. Como eu sou péssimo com nomes, tanto que estou “colando” todos os nomes dos personagens do , eu a apelidei ao longo da série inteira de Mulher-Maravilha. Único apelido possível e imaginável. Assistam e entendam o porquê.

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Se por um lado Seo Yi-kyeong é uma personagem incrível e perfeita desde o início, é preciso destacar a evolução do personagem Pyeon Sang-wook, interpretado pelo ator Lee Jin-wook. Sempre misterioso, o personagem foi apresentado como uma espécie de gangster. Porém, com a evolução da série, o passar dos episódios, ele vai ganhando importância e vai crescendo em personalidade, tornando-se um dos integrantes melhores montados. Enquanto há coadjuvantes que simplesmente foram jogados no ambiente para, basicamente, compor elenco, Pyeon Sang-wook tem toda uma construção e humanização maravilhosa!

Já expliquei o porquê de ter utilizado The Walking Dead como uma das bases desta resenha, mas preciso explicar também o porquê de ter usado Tokyo Ghoul – Venom seria um spoiler grande, então terão que assistir para descobrir.

Sobre Tokyo Ghoul há alguns motivos: a energia passada pelo protagonista Cha Hyun-su é muito semelhante a de Kaneki, o protagonista do anime. Há muito de “herói trágico que carrega o peso do mundo”. Há dualidade, há arrependimentos passados, há dualidade humana. E isso tudo é extremamente Kaneki, que, inclusive, é um dos meus personagens de anime preferido e eu tenho um miniquadro dele aqui. Além disso, há a evolução de personagem. E isso nem me refiro somente ao protagonista, mas em especial ao Pyeon Sang-wook. E Tokyo Ghoul é um mangá que faz a construção e evolução de personagem extremamente bem.

Sem mais delongas, eu gostaria de finalizar afirmando que eu amei “Sweet Home” e não vejo a hora de chegar a segunda temporada – e isso me irrita, porque há uma possibilidade grande de eu esquecer acontecimentos até lá, o que me obriga a assistir de novo a primeira temporada. É um dorama que vale muito, tanto por quem já faz parte deste universo quanto por quem está chegando agora, como é o meu caso. Eu já era leitor de mangás, manhwas e espectador de animes. Mas, dorama, este foi o primeiro.

Sinopse:

Quando humanos viram monstros selvagens e espalham o terror, um jovem atormentado e seus vizinhos de apartamento lutam para sobreviver sem perder a humanidade.

Trailer:

Nota: 4,6/5

Autor do Post:

Henrique Schmidt

O louco dos livros, filmes, séries e animes. Talvez geek, talvez nerd, talvez preguiçoso, mas com certeza jornalista

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