O novo curta animado da Netflix, dirigido e escrito por Michael Govier e Will McCormack estreou na última sexta (20) e chamou atenção de grande parte da internet por ser tão intenso ainda que não haja nenhum diálogo (falado) em seus 12 minutos.
Antes de começar a discorrer sobre esta animação que arrancou (muitas) lágrimas (minhas, no caso), preciso deixar claro uma coisa: a história pode causar um impacto maior se você não souber do que se trata. Assisti sem ao menos ler a sinopse e a surpresa me atingiu como um caminhão desgovernado. Então, caso você ainda não tenha assistido recomendo que vá assistir e depois volte aqui para ler o texto.
Aviso já dado, creio que podemos falar sobre a história de luto de dois pais que foram separados e unidos pela dor de perder uma filha.
A história é contada através de uma animação 2d em um estilo rabiscado, o curta não tem a intenção de explorar cenários ou elaborar grandes artes nível Pixar/Disney. O principal objetivo desta história é entregar emoções, sejam elas negativas ou positivas, e ela faz isso com louvor; através de cores vivas para remeter a lembranças felizes e traços obscuros e sombrios para retratar o sentimento de luto e tristeza. Além disso, a história também consiste em dialogar com o espectador através das almas conturbadas dos personagens que se enfrentam quando eles mesmos se distanciam cada vez mais silenciosamente.
O único momento em que ouvimos vozes é através da música que aproxima o casal, das lembranças e de si mesmo. A grande beleza da história é o que os separou também os aproximou. Ambos perderam o que mais amava, e essa dor é vista e possivelmente sentida pelo espectador em cada ato dos protagonistas, até quando eles enxergam a filha em meros objetos, azuis.
A escolha da música, jovial da King Princess (1950, o nome da música) foi a cereja no topo do bolo. A letra ainda que possa parecer romântica e feita para um casal, também fala sobre amor e principalmente saudade. A maravilha dela é que ao mesmo tempo que conversa com a saudade da filha que os deixou, também conversa entre os protagonistas que estão solitários e precisam passar pelo luto juntos, apoiando um ao outro.
“Então eu esperarei por você, eu rezareiEu continuarei esperando por seu amorPor você, eu esperarei”
(tradução de 1950 da King Princess)
Vou me omitir quanto a revelação da morte da filha, por mais que ela esteja explicitamente dita na sinopse revelada pela Netflix, acredito que o desconhecimento pela causa da morte faz o espectador se sentir mais impactado e comovido pelo ocorrido. E se você ainda não chorou vendo todos os flashbacks e a tristeza no olhar dos pais, ao descobrir como a jovem morre, você definitivamente vai se emocionar. É triste e causa raiva porque não é algo fantasioso, é algo real que vemos em noticiários, ainda que não faça parte da sua realidade.
Por fim, acredito que a história ainda que curta consegue ser impactante e inesquecível. É dolorosamente trágica mas com um feixe de esperança para uma recuperação saudável e em conjunto. A simbologia com as almas se encontrando e vivendo, agora em paz, traz essa sensação de alívio em meio a dor imensurável do luto de perder uma filha. Há um certo tipo de beleza ao fim, a beleza da serenidade, da paz e do reencontro.
Sem palavra alguma dita, eles disseram muito mais do que poderia ser falado. As emoções em “Se Algo Acontecer… Te amo” podem te atingir como uma avalanche, mas esta história (definitivamente) merece ter seu reconhecimento e, principalmente, merece ser dita e compartilhada.
“Se Algo Acontecer… Te amo” está disponível na Netflix.
Nota: 5/5