A ideia de que Stephen King pudesse me conquistar com somente 200 páginas foi no mínimo intrigante. É claro que é inevitável manter as expectativas baixas quando se adquiri um exemplar do King, mas o mais incrível disso é que ele supera todas expectativas criadas com Joyland.
Em Joyland viajamos no tempo, diretamente para os anos 70, especificamente para uma cidadezinha na Carolina do Norte que funciona basicamente apenas no verão, já que seu forte são as praias e o turismo de veraneio. Mas, a história se passa mesmo é no parque de diversões que deu nome ao livro. E como estamos falando de Stephen King a história definitivamente tem seu suspense, mistério e mortes trágicas.
Antes de começar a falar sobre todo o mistério que envolve a trama principal, acho que eu deveria começar pelo começo (propositalmente redundante). Devin Jones, o protagonista zero a esquerda, o herói de curiosidade aguçada.
A forma como o protagonista é criado e desenvolvido, de um jovem ingênuo de coração partido a de fato um homem, nos fornece a jornada do herói mais pé no chão e identificável que uma história trhiller poderia oferecer. O fato de ser tão “zero a esquerda” é o que faz com que ele seja tão atraente de ler, ele é literalmente alguém perdido, magoado e à procura de um rumo. O livro tinha tudo para se tornar algo surpreendemente filosófico com a personalidade conturbada do protagonista, mas ele se restringe a noites mal dormidas e funciona.
Ainda assim, Devin Jones não é a melhor coisa do livro. A melhor coisa de Joyland é Joyland, o parque de diversões. A ambientação do lugar que vende diversão é perfeita! Os dialetos que King ousa em usar, os personagens caricatos facilmente de serem visualizados em sua mente enquanto lê, dá vida a uma maquina do tempo que te teletransporta diretamente para o centro do caos e diversão.
O mistério é inserido com sutileza e não é o principal do livro. A escrita, ainda que não enrole e seja bastante direta, faz mais jus a caminha do protagonista em sua evolução e transformação através dos vínculos criados em sua trajetória. O mistério dos assassinatos, que são inseridos pela curiosidade de Jones, é apenas a muleta que serviu para a sua transformação que se dá por completo ao fim. (uma muleta surpreendente por sinal).
O modo como King narra a história é a cereja no topo do bolo de Joyland. A história é contada pelo protagonista no futuro, como uma lembrança saudosa, então de momento em momento o autor fornece alguns spoilers da vida do protagonista e dos personagens ao seu redor. E isso não estraga a experiência, apenas instiga mais ainda o leitor a continuar a história e descobrir como o herói chegará aquela fase de sua vida.
Poderia facilmente discorrer sobre os personagens e a forma como me senti conectada com eles, sobre Mike principalmente, mas acredito que se eu me estender mais irei estragar a sua experiência, caso queira ler.
Ao fim, King consegue surpreender, chocar e deixar o leitor com o coração na mão. É surpreendente triste, de tirar o fôlego e pode arrancar algumas lágrimas. Isso tudo graças a habilidade impressionante de King em criar um universo cujo os personagens geram um vinculo emocional capaz de interligar suas histórias e tornar uma ficção mais pessoal do que ela almejava ser.
Joyland merece ser honrada e mais aclamada entre as obras do autor. Ainda que não seja tão popular quanto seus outros lançamentos (o que é uma pena), o livro detém de uma narrativa agradável e fluída, em um mundo cativante com personagens caricatamente reais. Ouso em dizer que (se honrarem a obra) a sua adaptação para a Freeform em forma de série será um sucesso.
Autor do Post:
Ludmilla Maia
Concurseira formada em Direito, estudante da U.A, protegida da Annalise Keating, cantora amadora dos New Directions, sobrevivente da ilha de Lost, parça do Bojack, e uma Amazona perdida que ouve KPOP e assiste muito drama asiático.