Após 24 anos da estreia de Jovens Bruxas, nós meros mortais ganhamos uma nova linhagem de amigas bruxas adolescentes, confusas e muito poderosas.
Estrelado por Cailee Spaeny, Gideon Adlon, Lovie Simone, Zoey Luna, Nicholas Galitzine e por Michelle Monaghan e David Duchovny, o longa conta com a direção e roteiro de Zoe Lister-Jones.
É impossível não comparar com o clássico dos anos 90, ainda mais quando o clássico contava no elenco com Neve Campbell, Fairuza Balk, Robin Tunney e Rachel True. Ainda que o novo elenco não cause o mesmo impacto, elas foram a escolha certa para o momento atual em que vivemos. As atrizes realmente tem cara, presença e atitudes de adolescentes…e não trazem aquela irrealidade de grandes mulheres feitas fazendo papéis de 15 anos mais jovem que sua idade real. Examlabs
Outro ponto positivo com o novo elenco é a descaracterização do esteriótipo de bruxas. Nesta versão, as jovens bruxas têm identidades próprias e estilos únicos, nada de gótico, vestidos pretos e longo, batons preto ou colares com a cruz invertida.
No entanto, infelizmente, a construção da amizade é bem vaga e superficial. Toda a introdução da novata Lily (Cailee Spaeny) ao círculo de bruxas é feita em uma conversa no meio da rua graças ao símbolo que a menina usava como colar (e ela não fazia ideia de que bruxas eram reais!). Ainda que a amizade tenha inciado de uma forma bem emponderada e bonita, todo restante foi fraco. Ao contrário da obra original, onde a Sarah (Robin Tunney) já tinha experiência com as atividades sobrenaturais e se uniram gradativamente como qualquer amizade normal e não do dia pra noite.
O tom do filme também é bem mais leve do que seu antecessor, e isso é um ponto positivo, porque ao contrário do de 1996 esse é um filme que pode ser realmente ser assistido por jovens adolescentes. Em “Nova Irmandade” o enredo propõe mais diversidade do que explorar o lado místico da história. O filme tenta promover um debate a cerca de comportamentos tóxicos entre os jovens, descoberta da sexualidade, insegurança, além de inserir personagens trans e gays de forma natural. Esse, ainda que seja um ponto positivo, foi o que deixou o filme fraco. A fixação por fazer um filme totalmente inclusivo tirou a naturalidade de como ele deveria ter sido feito, foi como se eles estivessem pisando em ovos quando elaboraram o roteiro. Explorar o misticismo e as bruxas sem deixar de ser inclusivo é possível se o roteiro não for preguiçoso.
A forma como a história se desenvolveu mostrou que havia apenas uma protagonista na história, a Lily. A história foi inteiramente sobre ela e isso dificultou a aproximação com as outras bruxas. As demais não tiveram histórias individuais, motivações nem desenvolvimento. O filme foi sobre a Lily e seu legado e não sobre Jovens Bruxas. E isso dificulta um pouco a história que deveria ser sobre a amizade das quatro e a magia.
A escolha do novo roteirista de fazer com que elas tenham um inimigo além da magia foi uma ótima alternativa e diferente da original. Ainda que previsível, foi uma tentativa de confronto e criação do herói x vilão bem sucedida. Porém, incomoda o fato de não explorarem de fato os perigos da magia, nem ao menos trazer o realismo de “enlouquecerem” (nem que seja um pouquinho) com tamanho poder em mãos. Afinal, elas são só adolescentes! Ao fim, elas não aprendem nada sobre magia ou os perigos dela, já que foi tudo um mal entendido. E novamente foi raso e superficial.
O confronto principal do filme foi resolvido apressadamente e sem emoção alguma. Ainda que tenha sido com cenas de luta e magia, não fez sentido alguém com tamanho poder ser derrotado por adolescentes que brincavam com magia. Nesta nova geração de bruxas elas não faziam questão de estudar a fundo ou entender de fato a magia, era tudo por diversão. E isso não seria um fator problemático se não tivesse tal confronto.
Ao fim é possível perceber a conexão com as duas versões das Jovens Bruxas, e notar que o filme é uma continuação e não um reboot. Porém, se você não viu o filme lançado em 1996 o final não vai fazer sentido algum para você. O fim do filme é feito para fazer sentido apenas para quem viu o filme anterior já que ele acaba com uma cena rápida mostrando uma das bruxas originais.
Apesar de ser classificado como terror, “Jovens Bruxas – Nova Irmandade” passa longe do gênero. No entanto, não posso negar que o filme é um ótimo divertimento. Não é profundo nem o próximo filme a ganhar o Oscar, mas é definitivamente uma ótima escolha caso você queira assistir algo leve e bem teen. É possível se identificar com diversos momentos entre os adolescentes, entre momentos embaraçosos e momentos passíveis de fangirl, além de ter várias referências ao filme dos anos 90 para te deixar com uma nostalgia daquelas!
Este não é daqueles tipos de filmes para assistir quando se quer ficar com medo, acredito que a melhor definição para ele seja um “comfort movie“. Aquele tipo de filme que você assiste quando quer se sentir bem e confortável, se divertir sem pretensão alguma e simplesmente aproveitar o entretenimento oferecido sem segundas intenções.
“Jovens Bruxas – Nova Irmandade” está em exibição nos cinemas brasileiros.
Nota: 3,3/5