Os órfãos de Gossip Girl e essas séries teen com garotas brancas ricas e suas vidas luxuosas cheias de problemas fáceis podem ficar tranquilos: Emily em Paris é tudo o que você quer. Clichês, estereótipos e um conteúdo cheio de possibilidades transformado em nada numa embalagem glamourosa.
Definitivamente, a única regra para assistir essa série é: desligue seu cérebro. Pouca coisa faz sentido. Emily (Lily Collins) consegue tudo que quer. As fotos feias feitas por ela no Instagram com hashtags péssimas viralizam sem justificativa nenhuma ou qualquer pé na realidade. Os problemas de cada episódio se resolvem em um passo de mágica e tudo, absolutamente tudo, dá certo pra ela, porque não é Emily que está para Paris, é Paris, uma cidade inteira, das maiores do mundo, visitada por milhões e milhões de pessoas, que está para ela. Vai saber, de repente na cabeça de um norte-americano faz algum sentido.
A série retrata os franceses com tanto caricaturismo que parece estar caçoando da França ao invés de exibindo-a. Há atuações péssimas, outras regulares e o elenco não tem nenhum momento de brilho pra chamar de seu. São personagens automáticos. Ainda assim, os atores principais trabalham como podem e seus personagens funcionam bem na trama, são todos muito carismáticos. Aliás, eles são parte essencial para que a série consiga se manter ao longo de seus episódios. E sim, há momentos bons, diálogos bons, cenas realmente bem construídas e pensadas, além de alguns temas propostos que estão em alta e merecem atenção.
Mas novamente, a cada acerto, vem o desconto logo após: a série não esconde a enorme preguiça em criar situações decentes e consequências reais. Ao se assumir como um guilty pleasure, Emily em Paris não assume risco nenhum. As problematizações que podem ser pensadas a partir da trama, no entanto, podem ser um ponto até proveitoso para se pensar no mercado da moda, da comunicação e em alguns pontos específicos de arte e modernidade, além da questão da cidade e política, já que a série parece uma propaganda contra qualquer tipo de vida que não seja compactuada ao patético e falido American Way of Life, mesmo embalando esse pensamento enquanto a todo momento busca exibir Paris (de um jeito óbvio e vazio).
Os americanos tem uma cara de pau inacreditável. Fazer uma série contextualizada noutro país para exibirem seus modos – em um momento específico Emily fala de como sente saudades de seu país, até de comer cheeseburguer, como se, pasmem, fosse exclusivo dos norte-americanos o gosto por sanduíche – e colocarem-se num pódio de Best Way of Life é tão patético quanto as situações que a protagonista passa no seu dia-a-dia glamouroso ao lado das personalidades mais importantes da França – sim, porque a empresa para a qual Emily trabalha deve ser das maiores do mundo para que ela lide a todo tempo com os maiores chefões da indústria francesa.
Interessante como a série pinta os franceses como péssimos, mas todos eles caem aos pés mágicos de Emily, que sempre entra em confusão e resolve todos os problemas antes dos cinco minutos finais de cada episódio. Interessante como um povo pintado como tão chato sempre está ajudando a protagonista. Emily só não é chata porque a personagem e a intérprete possuem certo carisma próprio, mas até os mais distantes personagens soam por vezes muito mais interessantes que a influencer de fotos bosta.
Não é que a série seja necessariamente ruim. É que ela é feita pra ser assim. É que ela não é feita para ser boa, mas dentro do critério que estabelece para si é excelente, é puro entretenimento. Até a montagem apressada denota isso. Emily em Paris, tal qual fast fashion e o modelo de sociedade rápido e vazio em que estamos vivendo, é uma “fast série” e torna-se vítima de si mesma ao ser assumidamente para passar o tempo, não buscando nada além disso. É que com o cérebro ligado, a diversão pode soar só enfadonha e preguiçosa. De qualquer modo, é muito feliz ao mirar em seu público-alvo que ama o gênero e com certeza vai agradá-lo muito.
Nota: 2,8/5
Autor do Post:
Paulo Rossi
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Um sonhador. Às vezes idealista, geralmente pessimista e sempre por aí metido num bocado de coisas. Apaixonado por audiovisual, cearense com baita orgulho e um questionador nato com vontade de gritar ao mundo tudo que acredita.