Eu estou simplesmente apaixonado pelo livro “Jogador Nº 1”, de Ernest Cline, assim como também me apaixonei pelo filme. Há complicações na obra, mas também há tantas referências, tantas coisas fantásticas para quem vive ou aprecia o mundo geek/nerd/gamer que é impossível não gostar (pelo menos para mim).
Primeiro, começar a falar pelo erro: o livro demora a começar. Para dar uma maior ambientação ao leitor – e fazer mais referências ao mundo nerd -, Ernest Cline se estende em suas explicações, em seus detalhes e em sua escrita. Isso faz com que a primeira parte da obra seja realmente lenta.
Porém, após isso, podemos notar personagens com personalidades, carismáticos e com diferentes referências a outras obras nerds. Para mim, o livro não deixa de ser também uma grande homenagem a diferentes ferramentas e plataformas deste mundo, principalmente na década de 1980.
Apesar de toda a ambientação nerd, o livro também deixa diferentes críticas sociais implícitas ou explícitas. A obra aborda o machismo no mundo gamer (quando é levantado a possibilidade de boas jogadoras do sexo feminino serem interpretadas por homens, pois, na visão machista, seria impossível que gamers tão talentosas fossem mulheres), aborda o racismo (quando há pessoas negras, principalmente mulheres, que preferem interpretar avatares de homens brancos por causa da diferença na forma em que eram tratadas e as oportunidades que recebiam), aborda questões ambientais (exagero na utilização de combustível fóssil), aborda corrupção, faz críticas ao capitalismo (deixarei um trecho sobre isso no fim da resenha) e, principalmente, o mundo real x virtual.
O debate “mundo real x virtual” deixa várias questões claras ao longo de toda a obra. Até onde vai o mundo virtual? Até que ponto ele é real e verdadeiro? Se passarmos mais tempo no mundo virtual, ele não se torna a nossa realidade? Eu acredito que – deixando de lado que estamos vivendo em tempos de pandemia – estamos em um momento da história (reforçando, fora da pandemia) em que o virtual está a um clique e bastante acessível a muitas pessoas, o que, em alguns momentos, permite a fusão com o mundo real – e não há nada de errado com isso.
No entanto, quase parafraseando o livro (e digo quase para não dar nenhum tipo de spoiler sobre o livro, por isso mudarei um pouco, mas mantendo o sentido), é normal sentirmos medo no mundo real. O mundo real é assustador, é complicado, difícil, até mesmo dolorido. Apesar disso, ainda é o mundo real, é a realidade. É apenas na realidade que podemos encontrar a felicidade de verdade.
Dito isso, voltamos à principal crítica ao capitalismo, que fica muito clara – e atual – nessa passagem do livro (também um pouco modificada): Os devedores quase nunca conseguem quitar suas dívidas para serem liberados de suas funções no trabalho. “Mas muitas pessoas não pareciam se importar com aquilo. Viam a situação como estabilidade financeira. Também significa que elas não morreriam de fome nem de frio nas ruas”.
“Jogador Nº 1” é uma obra que vale a pena ser lida. Provavelmente vai encantar mais os integrantes do mundo geek/nerd/gamer do que outros leitores. Porém, para quem tem curiosidade em saber mais sobre esse universo, inclusive tendo referências, também é uma pedida certa.