“Correspondentes” e a importância do jornalismo

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Eu estava em dúvida sobre fazer ou não a resenha do livro “Correspondentes: Bastidores, histórias e aventuras de jornalistas brasileiros pelo mundo”, da Globo Livros, com vários autores. Isso por ser uma obra de nicho, visto que fala principalmente para um público específico. No entanto, vendo que ela se estende em outros pontos, e aconselhado pela namorada, resolvi escrever.

“Correspondentes” reúne relatos de experiências de diferentes jornalistas nos mais variados locais do mundo. Há histórias tanto da década de 1970 quanto a partir dos anos 2010. Em um primeiro momento, já é possível notar que a obra conta com uma grande importância histórica, visto que vários profissionais da reportagem narram eventos históricos – renúncia de Papa, eleição de Obama, guerras, terremotos, entre outros – por meio dos bastidores da notícia, através da ótica deles.

Além desse contexto histórico, o livro também se mostra importante ao falar da profissão correspondente internacional, que é tida por muitos como o maior objetivo dentro da carreira de jornalista. Alguns enxergam a posição com grande glamourização. Afinal, é morar em diferentes países, cobrir diversas matérias bacanas, conhecer novas culturas, etc. Porém, “Correspondentes” também mostra o “lado B” da carreira: sequestros em zonas de conflitos, riscos em locais que sofreram desastres naturais, falta de sono, falta de conforto, fome (em alguns momentos), estar longe da família e amigos, perder datas importantes, entre várias outras situações.

Em certo momento, o livro pode se tornar maçante, principalmente se você o lê diariamente. São vários relatos de experiência e a obra não vai além disso – e não precisa ir, diga-se de passagem. Porém, pode se tornar cansativa, principalmente caso você não se adeque à forma de escrita de determinado autor.

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Por outro lado, é divertido, e até curioso, reparar em coincidências, intencionais ou não, mas que acabam se mostrando importantes, em diferentes relatos. Uma delas é a importância do futebol para a visão que o mundo tem sobre o Brasil.

Isso porque vários correspondentes contam que, em dificuldades para conseguir ajuda ou acessar certos lugares, principalmente na região do Oriente Médio e no Leste Europeu, eles encontravam a simpatia do povo pelo Brasil, justamente por causa da seleção brasileira. Soldados de diferentes países, guerrilheiros, além de civis, sempre mostravam conhecimento sobre o futebol brasileiro, citando Zico, Pelé, Romário, os Ronaldos, entre outros. É bacana ver o quão importante foi o futebol para que as pessoas do mundo enxergassem o Brasil – digo, principalmente, pelo contexto cultural e social, primordial no século XX e nos anos 2000, o que vem se perdendo.

Outro fato curioso é reparar na “importância” que a ditadura militar brasileira teve para o fortalecimento da profissão correspondente internacional. Isso ia ocorrer de qualquer maneira, porém a censura dos militares era muito maior nos temas nacionais do que nos internacionais. Então, uma saída que a Globo – neste caso – encontrou foi fortalecer o seu jornalismo internacional, aumentando a sua grade com matérias de outros países.

No entanto, como o livro traz os relatos dos jornalistas sobre diferentes assuntos, inclusive sobre acontecimentos mais pesados, também há partes, digamos, doloridas de serem lidas. Em um trecho escrito por Jorge Pontual sobre o imediato pós-11 de Setembro (o ataque às Torres Gêmeas), ele conta rapidamente a história de uma mãe paquistanesa que foi procurar o filho, que era paramédico e cadete da polícia. Ele estava de folga no dia, mas viu a tragédia e resolveu ajudar. Houve veículo de imprensa norte-americano publicando a foto do rapaz como se ele fosse um dos suspeitos do atentado, fazendo com que a casa da mãe, Talat Hamdani, fosse apedrejada e ela ameaçada de morte. Quando o corpo foi encontrado, o jovem foi enterrado como herói.

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“Ele foi enterrado como herói. Na cerimônia, ela [a mãe] fez um discurso dizendo que, se ele chamasse Jesus ou Moisés, não teria sido visto como criminoso. Mas como seu nome era Mohammad…”, escreveu Jorge Pontual. Esse trecho demonstra o crescimento do preconceito contra a população muçulmana nos Estados Unidos naquele momento após o atentado.

Há outros trechos narrando misérias, assassinatos de equipes de reportagens estrangeiras e outros relatos tão pesados quanto. Em alguns momentos, é preciso ter estômago forte. Porém, em tempos de Covid e muitas pessoas brincando nas redes sociais sobre “o chinês que comeu o morcego”, eu gostaria de destacar um trecho no relato da jornalista Sônia Bridi, que foi correspondente internacional na China:

“Quando aprendi como fazer os pedidos, desfrutei da comida chinesa, que é deliciosa, saudável, muito mais sofisficada do que eu pensava. Eles [chineses] gostam muito de variar os alimentos, comem muitos vegetais. Apesar da poluição, tivemos mais saúde na China do que na França. […] Na China, mesmo com a poluição, eu não ficava resfriada. Eu acho que a alimentação protegia”, disse Bridi.

“Correspondentes” é um livro que vale a pena ser lido, tanto por quem é da área de comunicação quanto por quem gosta de história e curiosidades de brasileiros pelo mundo. Afinal, parece que sempre tem um brasileiro em cada país do mundo, como alguns relatos da obra deixam transparecer, mesmo que em tom de brincadeira.

Obs final: a minha dúvida sobre escrever essa resenha ou não se deu pelo fato de ser um livro de nicho, como eu disse no início do texto. No entanto, além do aconselhamento da namorada, também tomei a decisão de escrever por ser um momento que acredito que o jornalismo profissional precisa de todo o apoio possível e necessário. Em um momento de muitas fake news e o crescimento de ameaças à vida de diferentes jornalistas, é importante relembrar a importância daqueles que nos narram os fatos de diferentes lugares do mundo.

Este texto foi escrito por Henrique para a coluna semanal Referência Literária, por problemas técnicos foi postado em conta diversa.

Autor do Post:

Ludmilla Maia

Concurseira formada em Direito, estudante da U.A, protegida da Annalise Keating, cantora amadora dos New Directions, sobrevivente da ilha de Lost, parça do Bojack, e uma Amazona perdida que ouve KPOP e assiste muito drama asiático.

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