São cerca de 30 anos de história (fictícia, porém inspirada na realidade) distribuídos em mais de 700 páginas. Isso é “Breve História de Sete Assassinatos”, de autoria do jamaicano Marlon James. A Jamaica, inclusive, é um dos principais terrenos da história.
A obra aborda situações sociais, raciais, políticas e, até mesmo, o tráfico internacional de drogas nas Américas durante o século XX – até mesmo o medo do fantasma do comunismo. Para isso, James utiliza a visão de diferentes personagens, inclusive um espírito, que vão narrando como a história vai se desenvolvendo. Cada um a partir da sua própria perspectiva.
Como os personagens são de diversas classes sociais – e de diferentes nacionalidades -, cada um tem uma forma diferente de falar. Alguns são mais irônicos, outros mais engraçados, outros mais inteligentes, alguns mais burros e assim por diante. Porém, a constante mudança na forma de se expressar deixa a história mais interessante.
O livro também conta com um personagem chamado “Cantor”, que não tem nome, mas claramente é o Bob Marley – vários fatos que realmente ocorreram são retratados na obra, inclusive o ano de sua morte. A facilidade de colocar uma pessoa real em uma obra fictícia (mesmo que inspirada na realidade) também chama a atenção.
Um dos pontos altos do livro, para mim, é a crítica velada à influência política dos Estados Unidos em outros países americanos. A obra cita, mesmo que indiretamente, e em um contexto fictício, a participação do país em lutas políticas nestas nações, que, algumas, estavam passando por um período ditatorial.
Ao abordar o tráfico internacional de drogas, Marlon James também acerta ao citar os cartéis colombianos e a expansão deles em território americano. Ainda no contexto das drogas, achei bem interessante os sub-capítulos narrados por personagens sob o efeito de entorpecentes.
“Breve História de Sete Assassinatos” não é um livro fácil de ser lido. São mais de 700 páginas de uma história com várias camadas sociais, raciais e políticas. Mesmo assim, é uma obra que merece ser lida. O livro, inclusive, venceu o Man Booker Prize de 2015.