Talvez seja difícil falar em piedade quando falamos de serial killer. Afinal, são pessoas que tiraram incontáveis vidas para satisfazer suas fantasias. No entanto, após ler “Serial Killers – Anatomia do mal”, de Harold Schrechter, percebi que é possível sim falarmos em piedade – ou pelo menos em extensão do sentimento de raiva.
Claro que o horror ainda é o prato principal. Tudo o que os inúmeros assassinos fizeram não pode ser diminuído de maneira nenhuma. Porém, o livro de Schrechter, ao contar mais da história destes criminosos, além de fazer um estudo da mente e abordar diferentes teses já narradas, mostra que o conteúdo vai muito além do nosso fascínio mórbido pelo tema.
O motivo, após ler o livro, é simples: 99,99999% (aqui é um exagero mesmo, pois não há porcentagem real) vieram de lares, de alguma forma, desestruturados, com abusos e excessos na infância. Era mãe fazendo sexo – cada noite com um homem – na mesma cama que o filho e o expondo a sexualidade precocemente; era pai/avô/tio abusando sexualmente da criança; era mãe vestindo o filho de mulher com a intenção de humilhá-lo; era estupro por parte de colegas de escola; eram pais alcoólatras; etc.
Claro que nada disso justifica que eles tenham se tornado assassinos em série. Afinal, inúmeras pessoas passam pelo mesmo e se tornam “cidadãos comuns”. Porém, neste ponto, é impossível não estender este sentimento de raiva e indignação para as famílias dos assassinos em série. Se por um lado os odiamos por tudo o que fizeram, por outro odiamos as família (ou só o pai, só a mãe, só o avô, etc) por toda a crueldade proporcionada no período da infância.
O livro destaca que, até hoje, foi impossível determinar exatamente a origem do mal, do sadismo, do fetiche destes assassinos. A infância destruída é uma tese, lesões cerebrais são outra tese, infância destruída + lesão cerebral também não é descartado. E a obra vai passando por todos esses pontos.
Já para nutrir o fascínio do público pelo tema, Schrechter conta a história de diferentes assassinos em série, tanto homens quanto mulheres, pelo mundo – mas a maior parte dos casos narrados ocorreram nos Estados Unidos. Um dos casos descritos no livro se passa no Brasil.
Como uma crítica, e uma coisa que eu gostei muito, há o destaque, feito em inúmeros momentos, que alguns assassinos em série optavam – intencionalmente ou não – por vítimas que seriam ignoradas pelas autoridades. Ou seja: negros, homossexuais, prostitutas, moradores de rua, etc. Lembrando que todos – ou a esmagadora maioria – dos crimes narrados se passaram nos séculos XIX e XX, quando o machismo, o racismo e a homofobia eram ainda maiores do que nos dias atuais.
Com uma belíssima edição da Darkside, “Serial Killers – Anatomia do mal” é uma ótima pedida para todos aqueles que gostam do tema, seja por curiosidade ou fascínio. No fim, ainda há a descrição de diferentes obras – livros, filmes e séries – com a temática de psicopatas e serial killers.