CRÍTICA | Atypical- Primeira temporada

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Atypical é uma dessas séries que a gente assiste por acaso e de mansinho vai conquistando a gente. Criada e escrita por Robia Rashid, a série conta a história de Sam Gardner (Keir Gilchrist) um jovem que está no espectro do autismo e aos 18 anos, com todos os problemas e dilemas que essa idade proporciona, decide que quer ter uma namorada.

A série acerta ao não tornar o  Sam uma vítima, o enredo apenas conta sua história do ponto de vista dele e trazendo a tona todos os clichês adolescentes dessa fase  e o quanto o autismo afeta não só a sua vida, mas a vida de sua família. Atypical acerta em vários pontos como a  dificuldade que existe em uma relação quase inexistente com seu pai ( Michael Rapaport), causada por uma ausência figurativamente e literalmente por um curto período, mostrando a dificuldade de um pai ao perceber que o seu filho não vai ser a companhia perfeita para falar de esportes ou ir aos jogos, a velha frustração paternal de quem cria um mundo de planos para um filho antes de saber tanto suas limitações quanto os seus gostos. Mas a delicadeza que a série mostra esse pai, 18 anos atrasado querendo de alguma maneira criar uma ligação com o filho e encontrando agora que ele tem interesse em arrumar uma namorada só reforça a sensibilidade que está presente em cada linha de diálogo.

Já sua mãe ( Jennifer Jason Leigh) ao contrário do pai sempre esteve presente, é quase uma super-heroína e a série mostra os lados positivos e negativos da situação. Tanto o fato de que com sua superproteção   ela acabe simplesmente deixando de lado sua vida para ser uma mãe e dona de casa quanto a dificuldade que é, embora a felicidade em ver os avanços de seu filho esteja evidente, quanto menos dependente o Sam é mais vazia fica a sua vida. já que por 18 anos a sua unica pauta era cuidar de um filho Atypical. Outro ponto importante é a irmã mais nova de Sam, Casey( Brigette Lundy-Paine) que a princípio parece ser ignorante e revoltada, mas acaba virando uma das personagens mais interessantes da série, toda a sua raiva em boa parte das vezes é um escudo e esconde uma grande camada  que vamos descobrindo ao passar dos episódios, a raiva de Casey é natural em qualquer família onde existem mais de um filho, conviver com um irmão que toma toda a atenção as vezes pode ser mais difícil do que parece e ainda existem os dilemas adolescentes como problemas com amigas da escola e o desenvolvimento do que acaba sendo um dos relacionamentos  mais fofo da história, mas a Casey é a maior protetora do irmão e não pensa duas vezes antes de enfrentar qualquer um que tente magoá-lo.

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Reprodução: Netflix

Atypical fala sobre autismo sem precisar colocar como o centro da série, não sei muito sobre o assunto, mas acredito que a série não romantiza nem torna mais difícil do que já é. O  mecanismo que faz tudo engrenar é o Sam e a maneira como entende as coisas e se relaciona com elas. O roteiro da série é bem produzido e, embora esteja falando de uma condição ainda não tão conhecida ele não se perde em explicações técnicas, mas também não nos deixa confusos. O fato do Sam levar tudo sempre tão ao pé da letra é o motivo para nós, enquanto telespectadores, recebermos certas explicações que talvez sejam mais necessárias não para a compreensão da trama, mas da condição que é o autismo.

A série trabalha bastante a empatia, os diálogos contrastam muito entre leveza e força e as cores suaves da série aliado a uma trilha sonora quase imperceptível transmitem a calmaria que o Sam precisa na vida dele. Atypical trabalha temas da adolescência, dramas familiares e situações clichês da vida colegial. Mas é tudo muito suave, o que torna os oito episódios uma delícia de assistir. Não é necessário nenhum Cliffhanger para manter o telespectador interessado, as situações por vezes naturais que são retratadas na série e o excelente desenvolvimento dos personagens são o cartão de visita para fazer com que o  telespectador volte, e se possível nem saia.

Zahid (Nik Dodani) melhor amigo e conselheiro de Sam , entra aqui inicialmente como um alívio cômico, mas seus conselhos e a química que ele e o Keir desenvolvem acabam rendendo pontos de humor sensacionais, Zahid é talvez uma das pessoas mais estranhas em seriados, o que o torna um ser completamente normal. Os conselhos estranhos dele que o Sam acaba levando ao pé da letra sempre rendem situações cômicas e as vezes constrangedoras que sobre pra Júlia (Amy Okuda) psicológa do sam ter que resolver.

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Na busca por sua namorada e com todos os conselhos que vai escutando Sam acaba trazendo Paige (Jeenna Boyd)para o enredo da história, uma personagem que novamente mostra o quanto não existe ninguém normal nesse mundo

As atuações são um presente, o keir  é dono de uma das melhores da série, ele está sempre com o rosto confuso, com a testa franzida, demonstrando da maneira mais clara os seus pensamentos mais confusos, que no final das contas sempre fazem sentido, seja para o enredo, seja para a vida. Jennifer Jason Leigh entrega uma Elsa proativa e corajosa e sua subtrama, embora pudesse ter sido mais desenvolvida, mostra uma mãe que é também uma mulher ainda jovem e enérgica tentando lembrar quem é além de uma dona de casa. Novamente Atypical trás uma trama bastante comum, afinal mães que sentem que perderam espaço na vida dos filhos adolescentes e/ou percebem uma independencia da parte deles e depois sentem que estão ficando cada vez menos úteis é bastante comum. Mas pegar uma subtrama clichê e trazer para dentro do contexto da série é extremamente interessante, porque ao mesmo tempo que ficamos irritados com essa atitude egoísta da Elsa, também entendemos como ela estava se sentindo e queria de alguma forma ser enxergada.

Reprodução: Netflix

Atypical chegou em silencio e conquistou um público de fãs que ficaram apaixonados pela maneira que as aceitações são trabalhadas na série. O jovem autista que só queria ser normal, percebe ao longo do tempo que ser normal é a coisa mais difícil que existe e não por sua condição neurológica, mas por ser humano. Ninguém é normal e cada particularidade do ser humano o torna único de alguma maneira, essa é talvez a mensagem de inclusão mais importante que a série passa.

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Nota do autor: 4,5

A Primeira temporada da série está disponível na Netflix.

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Autor do Post:

Yara Lima

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Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!

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